Revista Música Brasileira

Eis um disco surpreendente. Primeiro, pelo insólito encontro do gaúcho com o pernambucano...
Eis um disco surpreendente. Primeiro, pelo insólito encontro do gaúcho com o pernambucano, ambos reconhecidos craques nos seus instrumentos, mas quase antípodas musicais. Segundo, porque – contra muitas expectativas – o encontro não se transforma em um desafio de virtuosismo, com aquelas corridas para ver quem faz escalas mais rápidas, e que banalizam a maioria dos “super-encontros” de instrumentistas.

A música flui macia e envolvente desde a primeira faixa. Parece que os dois, ao entrar no estúdio, em janeiro de 2007, tinham acabado de comer uma feijoada, com direito a churrasco e carne de sol. Tocam sem pressa, saboreando cada acorde, valorizando as canções sem letra, como se estivessem numa varanda de fazenda, pintando a paisagem musical que viesse à mente.
Recordam o grande Meira (Molambo), homenageiam Sivuca (João e Maria e Feira de Mangaio), passam por Tom Jobim (Estrada do Sol e Wave), revivem Custódio Mesquita (Velho Realejo), brincam com Waldir Azevedo (Pedacinho do Céu) e Abel Ferreira (Chorando Baixinho), surpreendem com Orlando Silveira e Esmeraldino Sales (Perigoso), aprontam com Pedro Raimundo (Escadaria), revisitam Luiz Gonzaga (Asa Branca). Também nos lembram que são mais que intérpretes, e tocam Dominguinhos e Yamandu, em solo e em parceria.

O violão que veio de Passo Fundo está contido, limpo e exato. Yamandu se mostra mais maduro a cada gravação, burilando sua sonoridade. Aqui, toca como um veterano, conhecedor de todos os truques.

O fole do filho de Garanhuns ora se faz de acrobata, ora de cama (elástica) para as evoluções do parceiro. Dominguinhos sabe tudo sobre seu instrumento, e toca com a alegria de um moleque virtuoso.

Um belo encontro musical, sem a preocupação de virar obra-prima ou bíblia. E que, na sua simplicidade consegue, em vários momentos, recriar a mesma atmosfera que envolve as coisas sublimes. Pra se ouvir muitas vezes!