Revista Música Brasileira

A primeira coisa que precisa ser dita sobre este CD é que ele é... genial! Depois de incomodar muitos ouvidos perplexos com as polirritmias de suas últimas gravações, o baiano de Irará retoma um projeto que se iniciou lá atrás, nos anos 70, com o disco Estudando o Samba, onde teve parceiros ilustres como Elton Medeiros.

Desta vez Tom Zé faz uma vivissecção da bossa nova, religando todos os seus fios, anteriores e posteriores, sem abandonar o tom irônico característico, mas com uma eufonia que há muito tempo não ouvíamos em seus trabalhos. São lindas, líricas e engraçadas canções, e Tom Zé teve a sabedoria de convocar um belo elenco de vozes femininas para apoiá-lo: Mônica Salmaso, Zélia Duncan, Jussara Silveira, Mariana Aydar, Fabiana Cozza, Fernanda Takai, Tita Lima, Márcia Castro, Badi Assad, Anelis Assumpção, Andréia Dias e Marina de la Riva. Timaço que é completado pela luxuosa participação de David Byrne, na ótima “Outra Insensatez, Poe”. Vocais de apoio à la Cariocas completam o círculo de referências, que gravitam em torno de João Gilberto e seu violão-síntese.

Há quatro parcerias com Arnaldo Antunes, que pegou bem o espírito da coisa. Comentam, através da bossa, o rock’n roll, o bolero, o samba-canção, Caymmi, a Bahia, o banheiro de João, o Rio de Janeiro, e até o choro (a música O Filho do Pato cita o Tico-tico no Fubá).

Difícil escolher a melhor canção no meio de tantas delícias (Estudando a Bossa, Biscoito Fino, 2008). Num ano de tantas comemorações em homenagem aos 50 anos da bossa nova, Tom Zé reinventa o gênero e se reinventa, fazendo um dos melhores discos do ano.