Revista Música Brasileira

Em boa hora é resgatado pelo selo Saravá (leia-se Zeca Baleiro) um dos mais desconhecidos trabalhos autorais do “bendito” Sérgio Sampaio. O cd “Sinceramente” reúne um punhado de canções que não foram bem aproveitadas e ganharam o desprezo e a omissão da crítica à época (início da década de 80). De acordo com seu amigo e parceiro Sergio Natureza, as gravadoras nunca perdoaram Sampaio por ele não repetir a fórmula de sucesso do hit “eu quero botar meu bloco na rua”. As canções que compõem o terceiro e último LP do artista, um independente recheado do seu ceticismo social e ironia cáustica, trazem pérolas, como: “Homem de trinta”, assumindo que quase foi para o buraco e por pouco não foi parar no porão, num possível renascer do amor, mesmo dentro do vício (tenho almoçado, jantado, tomado café da manhã, barra pesada, não, muito obrigado); “Tolo fui eu”, que divide os desencontros de uma relação baseada na própria falta de jeito e na cegueira da mulher em não dimensionar o riso, a dor e alegria do poeta; a romântica, à la Roberto, “Só para o seu coração”, na qual declara o amor e quer cantá-lo ao mundo inteiro; a única do disco em parceria com Natureza, a ótima “Cabra cega” (que já recebera excelente gravação com Marcos Assumpção); a que nomeia com acerto o disco, “Sinceramente” (não há nada mais bonito do que ser independente e poder se conquistar, sair, chegar assim tão simplesmente); a homenagem a Luiz Melodia “Doce melodia”, com participação do cantor; a hilária “Faixa seis” que anuncia um ex-amor agora não passando de uma faixa seis do lado B do LP , aquela que o programador da rádio nunca tocará; e por fim “Nem assim”, boa melodia com poesia trazendo um adeus com todo o despeito e picardia, característica das melhores letras de Sampaio.