Revista MB Recomenda

Redemoinho

Por Daniel Brazil - 04/05/2007

Paulo Freire

A ancestral viola caipira sempre foi ligada ao ambiente rural e folclórico de nossa música. De origem ibérica, a sonoridade metálica de suas dez cordas marcou as modas, ponteios e repentes de todas as regiões do Brasil.

A partir dos anos 80, foi redescoberta por instrumentistas como Almir Sater, Roberto Correa, Ivan Vilela e Braz da Viola, que levaram adiante a busca por novos horizontes sonoros iniciada pelo pioneiro Renato Andrade.

Entre esses novos violeiros, destaca-se o nome de Paulo Freire. Nascido em Campinas, formado em Comunicações, mudou de rumo musical após uma estadia nas veredas do Vale do Jequitinhonha, terra mítica dos personagens de Guimarães Rosa. Voltou apaixonado pela viola, e gravou seu primeiro disco em 1995, o premiado Rio Abaixo. Escreveu livros sobre o universo caipira, compôs a trilha para minissérie Grande Sertão: Veredas, fez shows sozinho, em dupla, tocou com várias formações, e foi experimentando outras combinações sonoras.

Seu novo disco (Redemoinho, 2007, distribuído pela Tratore) é um passo além nessa exploração das possibilidades da viola. O violeiro convocou flautas, sax, cello, baixo e percussão para emoldurar suas delicadas composições. Alguns vão dizer “puxa, parece erudito!” ou “não parece caipira!”. De fato, aqui Paulo Freire passeia por ritmos, andamentos e intervalos que certamente soariam estranhos a Tião Carreiro. Mas em vários momentos o genioso mestre sorriria ao reconhecer acordes bem ponteados, de sotaque inconfundível.

Ora barroco, ora moderno, ora jazzístico, ora pastoral, Paulo Freire demonstra maturidade musical e domínio técnico, sem perder o lirismo. São músicas para se ouvir nas noites do sertão de agora, com o luar surgindo sobre a verde mata ou sobre o recorte dos edifícios. Um paisagem de várias influências, mas repare bem: você vai ouvindo, vai ouvindo, e percebe que ali dentro desse redemoinho tem um saci bem brasileiro.