Revista Música Brasileira

Neste ano do centenário de Radamés Gnatalli, nada mais justo que surgissem discos temáticos, como este Radamés e o Sax (Biscoito Fino, 2006). Afinal, o mestre tem uma obra tão extensa que poderiam ser feitos vários volumes dedicados a instrumentos e formações diferentes. Alguns, felizmente, foram gravados, e ainda falta muita coisa.

Léo Gandelman se encarregou de selecionar e dar vida a partituras escritas para sax soprano, tenor, alto e barítono, escritas em diferentes épocas. Acompanhado de músicos do primeiro time, o artista demonstra grande domínio técnico e versatilidade tocando os choros, sambas, serenatas e valsas de Radamés. As peças vão de temas bem sacudidos, como os choros Remexendo ou Assim É Melhor, até sonoridades mais eruditas, com a bela suíte Brasiliana n°. 7, em três movimentos, onde brilha o piano de Maria Teresa Madeira. Até um samba-canção inédito é apresentado, com letra de Paulo César Pinheiro e a voz de Zélia Duncan em dueto com o sax alto.

Gandelman é exato nos solos e, quando a partitura solicita, se encarrega com perícia dos naipes. A sonoridade macia e exata de seu sopro torna esse disco a trilha sonora ideal para muitas verões, sob o céu tropical de um Brasil urbano e plural, que o mal-humorado maestro soube tão bem transcrever. Obra de gênio, sax de mestre.