Revista MB Recomenda

Livro do Galo tem relançamento

Por Gerdal J. Paula - 23/01/2023

 

        "Eu sou o choro, a voz do choro sou eu mesmo, sim, senhor..." Assim, sem falsa modéstia, parafraseando Zé Kéti na clássica autoexaltação do samba, o Galo Preto (foto abaixo) poderia gabar-se da posição de supremacia que ocupa no tradicional e hospitaleiro quintal do choro, sendo referência para tantos conjuntos, congêneres especialmente, surgidos nos últimos 48 anos. Essa, aliás, a idade desse "galo de rinha", como já observou o letrista Aldir Blanc, espantado, certa feita, com a valentia demonstrada, ao longo dessa trajetória, ante "tanta raposa entrando e saindo feito cometa do galinheiro, afanando as galinhas que, em última análise, são a razão de ser do canto dele". Uma disposição notável, portanto, que, mesmo em face dos diversos embaraços encontrados para a atuação do músico no país, estampa-se na longevidade musical do conjunto, formado inicialmente por ex-peladeiros com proximidade domiciliar uns dos outros, que se reuniam, após o futebol, na casa do violonista Raul Machado, pai de um deles, Afonso Machado, onde começaram a lidar com música. O interesse pelo choro adveio, em 1973, após verem o Época de Ouro, Copinha, Paulinho da Viola e Elton Medeiros no show "Sarau", o que se fortaleceu quando conheceram o compositor e violonista Claudionor Cruz, que lhes forneceu régua e compasso, como noções iniciais de arranjo, para o noviciado profissional.
Formado atualmente por Afonso Machado (bandolim e arranjos), Alexandre Paiva (cavaquinho), Zé Luís Maia (contrabaixo), José Maria Braga (flauta), Tiago Machado (violão) e Diego Zangado (percussão), o Galo Preto pode ser ouvido nos "links" acima tocando dois dos mais inspirados, entre tantos, momentos autorais de Paulinho da Viola: "Tudo Se Transformou" e "Só o Tempo", em sequência. Do consagrado sambista, o conjunto pinçou-lhe a essência chorona da sua formação - filho que é do saudoso César Faria, violonista do citado grupo de Jacob do Bandolim - para homenageá-lo - como faria depois com Cartola e Nelson Cavaquinho - num magnífico disco, de 1994, em que, entre as composições de Paulinho, se inseriu um mimo deste para a ocasião, o "Maxixe do Galo". "Galo grisalho", torna Aldir à sua observação, "que continua cantando de teimoso, tinhoso, com os pés fincados no subúrbio feito um galo de cata-vento, rindo das aves de arribação". Galo não só da "resistência" ou da "resiliência", mas também da inovação e do exemplo para jovens músicos seduzidos pelo fascínio atemporal do choro. Galo rei do terreiro nessa seara da MPB (em sentido largo).