Revista MB Recomenda

Casa de Todo Mundo

Por Luís Pimentel - 01/03/2007

Mário Sève

Instrumentista de sopros com uma folha corrida das mais elogiáveis na MPB, com brevê tirado nos estúdios – acompanhando estrelas da nossa música que vão de Alceu Valença a Zeca Pagodinho – e na fundação de quintetos fundamentais como Aquarela Carioca e Nó em Pingo D´água, Mário Sève cozinhou em banho-maria, por alguns anos, o seu primeiro disco solo.

Valeu a demora, pois o prato pegou mais tempero. O recém-lançado Casa de todo mundo, onde o artista abre as janelas para sua obra de compositor refinado e arranjador sutil (nos arranjos, conta ainda com as colaborações preciosas do grupo Maogani, do Conjunto Época de Ouro, de Nelson Ângelo, seu parceiro na gostosa canção Da antiga, do Choro Club e da turma do Mestre Ambrósio).

Se o instrumentista de talento comprovado dispensa apresentações, o compositor segue os mesmos passos: nas pegadas da imaginação fértil e da melodia segura. Com parceiros do naipe de Sérgio Natureza (que o presenteia com a letra de uma ciranda deliciosa, Batendo perna) e Pedro Luis (Lua), entre outros, Mário só precisava mesmo juntar uma meia dúzia de bons intérpretes, para com ele abrir também todas as portas de sua Casa.

Vai além. O show de interpretações fica mais por conta das mulheres, com Mônica Salmaso, Clara Sandroni e a revelação Suely Mesquita entre elas. O resultado é um disco prontíssimo, rico em acordes e sons, letras e vozes, com certeza trabalhado à exaustão pelo autor que é também o produtor. Como bem escreveu o mestre Guinga, que sabe das coisas, “A sensação que dá é que Mário faz serão, dá plantão, trabalha com o guincho resgatando 24 horas por dia tudo o que é belo, tudo o que é íntimo da brasilidade”.

Casa de todo mundo pode ter demorado uns dez anos para chegar ao mercado. Mas torço para que demore pelo menos mais uns dez para sair dele.