Perfil

Paulo César Pinheiro

Por Luís Pimentel - 12/09/2003

Quem gosta de música brasileira tem cerca de mil razões para gostar imensamente do compositor Paulo César Pinheiro. Em termos numéricos, pelas cerca de mil lindas canções que esse criador incansável tem, sozinho ou com os parceiros mais diversos – prova de sua imensa generosidade. Em termos simbólicos, porque Paulinho é mesmo um sujeito amável, em todos os sentidos. Aquilo que no tempo em que o Dondon jogava no Andaraí nós chamávamos de “coração de ouro”.

Conheço a obra de Paulinho Pinheiro desde que me entendo por gente e ele por gênio. Desde as primeiríssimas. Ainda corria atrás de bola de meia e de gude, no interior da Bahia, e já ouvia abilolado um samba assim: “Quando eu morrer, me enterre na Lapinha/Calça culote, paletó e almofadinha”, parceria com Baden Powel e vencedor da I Bienal de Samba da TV Record. Fizemos uma versão na escola primária, de pura sacanagem: “Quando eu morrer, me enterre na latrina/De lá de baixo eu vejo a bunda das meninas”.

Além da maior obra da MPB, Paulo César Pinheiro é poeta em livro, desses bastante premiados. Pelo menos três eu tenho: Viola morena, Canto brasileiro e Atabaques, violas e bambus. Neste último, tem um verso assim: “Poesia quando estala/Deixo pronta a minha mala/Porque eu sou seu menino/E do jeito que ela fala/Sempre tem festa de gala/Pra mudar o meu destino”. Não é pouco.

De Baden para cá, o poeta foi acumulando parceiros na vida e nas canções. Todos o amam e o admiram. Dá pra citar, entre os que já foram e os que ficaram, João Nogueira, Mauro Duarte, Eduardo Gudim, Francis Hime, Rafael Rabello, Edu Lobo, Tom Jobim, Dori Caymmi, Maurício Tapajós, Wilson das Neves, Ederaldo Gentil, Edil Pacheco, Pedrinho Amorim, Moacyr Luz, Aldir Blanc e mais tantos, tantos e tantos. Intérpretes de suas canções? Além do próprio, que quando cria coragem desembucha a voz rouca e potente como se estivesse na sala de jantar, podemos lembrar de Elza Soares, Cristina Buarque, Clara Nunes, Eles Regina, Beth Carvalho, Alcione, Simone, Quarteto em Cy, Nana Caymmi, Dorina e mais tantas, tantas e tantas.

Para usar uma gíria moderna, Paulo César Pinheiro é tudo de bom. Para usar uma mais antiguinha, vinda lá de Irajá, por um amigo do Nei Lopes, Paulinho é meu e o boi não lambe. E se o boi lamber eu mato o boi.