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Música Instrumental Brasileira

Por Marcio Paschoal - 11/12/2013

Na trilha dos bons discos instrumentais, podemos destacar três lançamentos de final de ano. Começo com o excelente grupo AUM, que vem com seu “Turmalina”, revelando obras de concerto, versões e suítes que merecem atenção. “Paisagens brasileiras número 9: Noite enluarada”, do maestro e compositor Rodrigo Vitta, integra a sua ópera “Antônia”. Regente titular da Orquestra Metropolitana de São Paulo, Vitta tem respeitada trajetória musical e é dele a abertura dos trabalhos. O clássico “Mulher Rendeira” tem vibrante arranjo de flautas. Num andamento mais lento, “Lampião de gás” e “Tristeza do Jeca” ganham arranjos do flautista e saxofonista paulistano Celso Marques. A seguir, temos a “Incelença a um nobre tropeiro”, em forma de cântico fúnebre, do também paulistano Tiago Litieri, bacharel em composição erudita pela Santa Marcelina. Linha melódica e variações sutis ao piano e oboé, alternando o andamento e mantendo a sonoridade do arranjo. A suíte Olimpus em nove partes, de Paulo Maron, dedicada aos deuses do Olimpo, recebeu tratamento especial para o grupo de câmara e mostra certo experimentalismo sonoro que, às vezes, destoa do restante do disco. De Nelson Ayres, a única peça que não foi composta especialmente para o grupo, “Mantiqueira”, que recebe arranjo delicado e solos de flauta e piano. Do flautista Alexandre Daloia, uma composição em homenagem ao centenário de Adoniran, na brejeira e camerística “Toca, Adoniran!” (Trem das Onze, Samba do Arnesto e Tiro ao Álvaro). Encerrando,  a ótima “Baião”, do mineiro Edmundo Villani-Côrtes, que personifica a raiz do trabalho do autor, cujo acervo, com mais de 300 composições, procura mesclar o melhor do popular com o erudito.   O AUM é formado por Arlete Tironi Gordilho (piano), Gilson Barbosa (oboé e corne inglês), Liliana Bertolini (flauta), Clóvis Camargo (contrabaixo), Leonardo Labrada (percussão) e Hélcio de Latorre (flauta e flautim).   

Outro trabalho significativo é o de estreia do saxofonista e flautista Paulo Rego. Fundador do grupo “No Olho da Rua”, com quem já gravou seis cd’s, Paulo mostra um lado jazzístico bem marcado e eclético, passando por sambas, pop, bossa nova, baião, numa sonoridade bem brasileira. Tudo com esmero e certa dose de improvisação, sem exageros. Neste cd “Compor”, o músico apresenta um quarteto de saxofones (“O Polvo”) para depois arriscar no eletrônico “Sambairê” ou na levada mais sincopada baixo-piano (“Maresia”). Na companhia de craques como Guinga (com quem divide, ao lado de Pedro Franco no violão de sete cordas, a ótima “Café com Guinga”, melhor do disco), Julio Merlino (sax), Geraldo Costa (trombone), José Arimateia (flugelhorn), Xande Figueiredo (bateria), Rodrigo Ferreira (baixo), entre outros, ouvimos dez faixas autorais e inéditas. Destaco ainda “Pra Maria sorrir”, com melodias bem compassadas, e a leveza do samba-gafieira “Clube do Edu”.

Para finalizar, “Amilton Godoy e a música de Léa Freire” (foto). Amigos de longa data, realizaram este disco a partir da ideia de Léa registrar algumas de suas composições. Temas melódicos ricos como “Caminho das pedras”, “Brincando com Theo” e “Mamulengo”, foram  tomando vida na técnica do paulista  Amilton, de formação erudita (Magda Tagliaferro), mas ligado ao universo popular ( já tocou com Julio Medaglia e Chiquinho de Moraes), tendo participado da formação do Zimbo Trio  (1964). As faixas “Choro na chuva” e “Copenhague” merecem destaque, mas o forte é o conjunto homogêneo da obra da pianista.  Valsas, choros, baião, meias cirandas com temáticas que passeiam pelos ritmos bem regionais. Léa é também produtora (selo Maritaca) e editora de música instrumental. Com o trombonista Bocato gravou dois cd’s “Antologia da Canção Brasileira” e integra o Quinteto Vento em Madeira (Teco Cardoso, Tiago Costa, Fernando Demarco e Edu Ribeiro).