Perfil

Jorge Goulart

Por Luís Pimentel - 15/12/2003

Participei recentemente de entrevista com o estupendo cantor e excelente figura Jorge Goulart, para o jornal OPASQUIM21. Uma das coisas que mais lamentei, durante toda a conversa gravada, foi não ter conhecido antes o Jorge. Quanto papo bom já não teríamos batido pela vida afora. Que grande cara! Que força e que alegria de viver impressionantes que tem esse carioca admirável, que desde 1945 – quando lançou seu primeiro 78 rotações, com duas canções de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, A volta e Paciência, coração – é referência obrigatória na música brasileira.

Jorge sempre deu lição de vida e de como suportá-la com farplay. Um câncer na garganta o fez perder as cordas vocais no auge do carreira; comunista de carteirinha e coração, foi perseguido em todos os períodos em que o Partidão esteve na clandestinidade; e acaba de perder o seu o grande amor, a cantora Nora Ney (morta em 27 de outubro), companheira com quem durante 50 anos dividiu luzes, microfones e dissabores. Um dos maiores cantores de sua geração, herdeiro musical de gogós de ouro como Vicente Celestino, Francisco Alves e Orlando Dias, Goulart gravou os grandes compositores brasileiros (Ary Barroso, Wilson Batista, Alcir Pires Vermelho, Braguinha e Zé Keti entre eles) e grandes canções (Xangô, Balzaquiana, Mundo de zinco, Laura, A voz do morro e Miss Mangueira entre elas), dando a todas a roupagem inconfundível de sua elegância vocal.

Na entrevista (OPASQUIM21 número 93, Almanque), tivemos a honra de contar com a presença ilustre e iluminada de Carmélia Alves, a eterna Rainha do Baião. Jorge Goulart contou histórias do mundo nem sempre colorido da MPB, das viagens históricas ao redor do mundo, em missões artísticas e políticas, e até do dia que “pertenceu à máfia” no Rio de Janeiro. Comunista e mafioso? Só ele mesmo. Verdadeira lição de amor e de vida, dada por um dos homens que mais amam viver.