Outras notas musicais

Cantores e canções demais e mercado de menos? O assunto é antigo

01/06/2012

“Tenho a impressão de que a indústria de disco brasileira é um dos piores negócios do mundo. Os discos azedam empoeirados nas prateleiras e, em média, não se vendem 20% da produção. E por que tudo isto? Excesso de fábricas e conseqüente excesso de produção. Há, ao que me consta, no Brasil, certa de 11 fábricas que, mensalmente (caso de algumas), editam suplementos de 20 discos, ou seja, 40 músicas São 440 músicas editadas mensalmente no Brasil e 220 cantores (ou conjuntos) que gravam todo santo mês. Pergunto eu: há, mensalmente, 440 músicas que merecem ser gravadas? Há 220 cantores (ou conjuntos) que tenham qualidades para gravar? Há tempo suficiente para as estações de rádio difundirem essas 440 músicas? Um NÃO enorme para as três perguntas. Nos Estados Unidos, entre quase 200 milhões de habitantes, não há 50 cantores americanos que gravem mensalmente. Na França, não há 20. E os discos americanos e franceses são vendidos no mundo inteiro, enquanto os nossos não têm meios, sequer, para cobrir todo o território nacional. Então, qual seria o remédio? Restringir, através de uma seleção à base de qualidade, o número de cantores capazes de gravar. E possa afirmar que não há 15 cantores no Brasil que, a rigor, mereçam a goma-laca e a vinilite de uma gravação”.

(Da coluna diária do compositor e jornalista Antonio Maria, publicada no jornal O Globo há mais de meio século, no dia 20 de abril de 1956)
 

Datas importantes

Ponham na agenda: 15 de janeiro é o Dia do Compositor; 9 de fevereiro é o Dia do Frevo; 23 de abril é o Dia Nacional do Choro; 21 de junho é o Dia Internacional da Música; 11 de julho é o dia do Mestre da Banda; 22 de novembro é o Dia da Música; e 2 de dezembro é o Dia Nacional do Samba.

O Dia Nacional do Samba é comemorado com as pompas e circunstâncias que a data merece em algumas capitais brasileiras. Sobretudo em Salvador, onde shows espalhados por toda a cidade festejam o mais popular dos gêneros musicais, e no Rio de Janeiro, onde acontece o já tradicional Pagode do Trem – vagões lotados saem da Central do Brasil com destino à estação de Oswaldo Cruz. Ali, os sambistas se espalham por várias barracas, sempre sambando, cantando e reverenciando o mais popular dos gêneros musicais brasileiros.
 

O primeiro independente da música independente

Há alguns anos, desde meados da década de 1990, o disco independente tem estado em alta no Brasil. É comum, nos dias que correm, cantores e compositores bancarem a gravação e distribuição de seus trabalhos. E isto, felizmente, tem dado muito certo.

Sabem quem foi o pioneiro dessa luta? Chico Mario. O cantor, violonista e compositor Francisco Mário Figueiredo de Souza morreu no Rio de Janeiro, no dia 14 de março de 1988. Era irmão do cartunista Henfil e do sociólogo Herbert de Souza, Betinho, ambos também falecidos – era hemofílico, como os irmãos, e como eles contraiu Aids em transfusão de sangue. Chico Mário Tinha 39 anos.
 

O bigode do Ary

Flamenguista ferrenho, o compositor Ary Barroso fez uma aposta com o tricolor e também compositor Haroldo Barbosa, no Fla x Flu decisivo de 1955. Quem perdesse teria que raspar o bigode. Deu Fluminense e Ary se viu obrigado a se separar do bigode que usava há 30 anos.

Os contendores combinaram que a raspagem histórica teria que ser em público, no bar Vilarinho, freqüentado por ambos e pela nata do jornalismo, do rádio e da música brasileira. Só que depois do jogo Ary sumiu de casa, do trabalho e do convívio dos amigos, sendo encontrado dias depois, escondido, na casa da cantora Dircinha Batista.

O autor de Aquarela do Brasil ainda tentou negociar, pedindo ao vencedor, ao barbeiro e às testemunhas que o permitissem ficar com o querido bigodinho pelo menos por mais alguns dias. Nada feito. A operação foi realizada na hora e Barroso, devidamente desbigodado e quase irreconhecível, tentou um último gesto de heroísmo com a seguinte frase:

– Dou o meu amado bigode em sacrifício. Que ao menos o Flamengo se inspire no meu exemplo!
 

Perólas finas da MPB

O ouro afunda no mar
Madeira fica por cima
Ostra nasce do lodo
Gerando pérolas finas

(Ederaldo Gentil)