Memória

Zezé Gonzaga: a cantora dos maestros

Por Gerdal José de Paula - 31/07/2008

Aliando sensibilidade a afinação modelar e, por isso, tida e havida como "a cantora dos maestros", Zezé Gonzaga é mais uma dama da canção brasileira que passa a se chamar saudade. Estivéssemos num país com outra mentalidade predominante no mercado do disco e no showbiz, teria gravado mais e se apresentado mais ao público. Felizmente, pôde contar com o apoio do amigo dileto Hermínio Bello de Carvalho, que dela produziu, por exemplo, um elepê magnífico, feito para o Museu da Imagem e do Som (MIS) em 1979. Intitulado "Um Doce Veneno", nele Zezé interpretou apenas músicas de Valzinho, carioca do Irajá, irmão discreto de um compositor de sucesso, Newton Teixeira, e antecipador, a seu modo, da bossa nova, com uma harmonia "torta", desajeitada para o ouvido médio dos anos 40 e 50. Um disco dee xpressiva singularidade, já na faixa de abertura - "Óculos Escuros", com letra de Orestes Barbosa -, que, além de Valzinho, teve a participação de um quinteto formado por Radamés Gnatalli (piano), José Menezes (guitarra), Chiquinho (acordeom), Vidal (contrabaixo) e Luciano Perrone (bateria), sobre o qual recomendo texto do também saudoso jornalista Aramis Millarch, escrito para o jornal "Estado do Paraná" por ocasião do lançamento e disponível na internet (também postagem, com reprodução de fotos do encarte, no loronix.blogspot.com, portal de discos nacionais fora de catálogo). Ainda há pouco, de Zezé, ouvi outro disco que tenho, raríssimo, "Vivo a Cantar", o seu primeiro longa-duração, ainda um dez-polegadas. Embora distanciado em qualidade do anteriormente citado, é um registro simpático e gostoso de ouvir, de 1957, em que se destacam dois belos boleros, "Um Milhão de Vezes Não", de Carlos Monteiro de Souza e Alberto Paz, e "Não Sonhe Comigo", do industrial notívago Fernando César, além do inusitado de "Tiritomba", uma tarantela bem animada, com coro, que essa mineira de Manhuaçu entoa, brejeira, para a surpresa retrô dos admiradores posteriores ao disco - ou de conhecimento posterior dele -, especialmente os mais jovens.