Memória

Zé Menezes: Música feita e tocada com a maestria

Por Gerdal J. Paula - 05/08/2014

César Ladeira não titubeou quando, em 1943, em Fortaleza, em visita à Ceará Rádio Clube, que então inaugurava o seu serviço de ondas curtas, viu um garoto muito bom de violão e fez-lhe um convite para que viesse para o Rio, com contrato assinado, e atuasse na extinta Rádio Mayrink Veiga. Nascido em Jardim, também no Ceará, e, na sua cidade, criança ainda, participando da banda municipal e animando sessões de cinema e festas, José Menezes França, o Zé Menezes (fotos abaixo), já no Rio, daria ainda mais largas factuais ao vaticínio do controvertido Padre Cícero, que, ao vê-lo menino, diante dele, tocando ao cavaquinho um choro autoral, "Meus Oito Anos", disse-lhe, iluminado, mão posta sobre a cabeça do pequeno executante: "Você vai ser um grande músico." De fato, em 1947, saindo da Mayrink para a Nacional, onde ficaria por 25 anos, teve nesta emissora chance de aflorar com vivacidade ampliada o dom policromático das suas cordas - versado em todos os instrumentos dessa família -, além da lida como compositor e arranjador, atuando ao lado de colegas exponenciais, como Garoto (o qual substituíra na Mayrink, em 1943, quando da saída deste de lá) e Radamés Gnattali.

       Com o "moleque do banjo" Aníbal Augusto Sardinha - que, em 1998, homenageou no CD "Relendo Garoto" -, Zé Menezes faria dupla virtuosa, em programas como "Nada Além de Dois MInutos", e do citado pianista, maestro e arranjador gaúcho seria, em 1949, integrante, como guitarrista, do Quarteto Continental, tocando ainda em companhia de cobras como o contrabaixista Vidal e o baterista Luciano Perrone, uma formação gradativamente dilatada, no ano seguinte, para quinteto - com o ingresso de mais um gaúcho, Romeu Seibel, o Chiquinho do Acordeom - e, oito anos mais à frente, para sexteto, quando outro piano reforçou a formação, muito bem tratado por Aída Gnattali, irmã do "radamestre" ("apud" Fred Falcão, autor de choro assim intitulado). Tocavam na Nacional acompanhando os cantores de nomeada do "cast" e, na constituição final do conjunto, já excursionavam por capitais europeias, como Paris, Lisboa e Roma.

        "Não existe mulher feia, existe mulher mal arrumada. Com a música, é assim. Melodia sem harmonia bonita para alinhavar é uma coisa sem cintura." Chistoso na palavra, Zé Menezes, com esse lado descontraído da sua personalidade, liderou, com vários elepês gravados e muito bem autoadjetivados nas capas ("bárbaros", "sensacionais", "fabulosos" etc.), Os Velhinhos Transviados, um grupo de experientes e ótimos músicos que se apresentava de modo caricato em bailes, com peruca e maquiagem gritante, trazendo ainda para o seu repertório um quê galhofeiro aos arranjos - de alta qualidade, por sinal - para ritmos e canções em evidência no "hit parade" da época. Isso se ouve, por exemplo, em "O Passo do Elefantinho" ("Baby Elephant`s Walk", de Henry Mancini, presente na trilha do longa "Hatari"). Embora aposentado em 1992, Zé Menezes continuou com os seus frilas, atuando em show ou gravação. Costuma ser lembrado pelo bem conhecido tema de abertura do humorístico "Os Trapalhões", da TV Globo, emissora na qual trabalhou por muitos anos, inicialmente como primeiro guitarrista e, depois, como arranjador e diretor musical.