Memória

Rosil Cavalcanti: o centenário de Zé Lagoa

Por Gerdal J. Paula - 07/01/2015

Apesar do nome sempre associado a Campina Grande, onde residiu e se projetou artisticamente, Rosil Cavalcanti (fotos abaixo) era pernambucano de Macaparana, nascido, no dia 20 de dezembro de 1915, em fazenda de cultivo da cana-de-açúcar. Esse menino de engenho, de primário e ginásio cursados em Recife, prestaria serviço militar em Aracaju, em 1936, e, nessa capital, pelo Fomento Agrícola do Sergipe, tornar-se-ia um funcionário público, além de se destacar nos gramados locais pelo Cotinguiba, clube de futebol em que foi tricampeão.

Nos anos 40, já vivendo na Paraíba, transferido para a Secretaria de Agricultura, conhece, na capital, ninguém menos que Jackson do Pandeiro - cabeça-chata de Alagoa Grande, situada nesse estado da Federação - , um craque do ritmo e da divisão que terá suma importância para Rosil na vida artística - ainda em João Pessoa, na Rádio Tabajara, formaram, pela cor da pele de cada um, a dupla Café com Leite, a divertir a plateia com humor e emboladas. Curiosamente, o último suspiro para ambos, de tão irmanados em suas carreiras, viria, ainda que em anos diferentes (Rosil em 1968; Jackson em 1982), em 10 de julho e pelo mesmo motivo: infarto do miocárdio..

A partir de 1947, fixando-se na Rainha da Borborema, é que desabrocharia em Rosil um criador-símbolo da centelha nordestina, embalada por ritmos diversos, a começar pelo coco "Sebastiana", que, em 1953, daria a Jackson o primeiro sucesso nacional no disco e a Rosil, em particular, pela voz do amigo, o prazer de ter a primeira de suas músicas estourada na Velhacap - o que ainda sucederia por outros cartazes do disco, como Luiz Gonzaga (o segundo a gravar mais vezes o compositor) e Ademilde Fonseca, com o êxito de "Meu Cariri", um outro lançamento de 1953.

Versado no cordel - publicando, entre outros de sua autoria, "O Caminhão Fantasma" e "O Bicho do Mazagão" -, Rosil ainda causou admiração, em Campina Grande, pelo seu condão de animar auditório, em emissões diárias e ao vivo do seu "Forró de Zé Lagoa", pela Rádio Borborema (hoje Rádio Clube). Uma atração noturna em que ele, o próprio capitão Zé Lagoa, fazia graça, criticava desmandos de políticos - ele próprio primo de um deles, Joaquim Francisco, que foi governador de Pernambuco - e recebia sua gente, como os cantores Marinês, lá residente, e Genival Lacerda, lá nascido e já alcunhado O Senador do Rojão quando lançou, em 1962, pelo selo Rozenblit, o tema do programa, adotado por Jackson, no ano seguinte, como faixa de um de seus diversos elepês.

Rosil, rima rica de Brasil, só fazia coisa boa.