Memória

Relembrando Paulo da Portela

Por Alberto Buaiz Leite - 30/06/2021

“Paulo da Portela/Foi quem deu a luz/Ao samba que ilumina Oswaldo Cruz “. Estes versos, da música “ Depois de Madureira “, de Mauro Diniz, traduzem a importância do nosso homenageado. Ele foi o grande incentivador do samba carioca e um ferrenho defensor do sambista. Chegou ao mundo como Paulo Benjamin de Oliveira. Nasceu na Saúde, em 18 de junho de 1901 e teve uma infância pobre, pois o pai abandonou a família e, para ajudar a mãe, trabalhou, numa pensão, como entregador de marmitas. Mais tarde, passou a exercer a profissão de lustrador.
      Em 1920, a família mudou-se para Oswaldo Cruz, indo morar na Estrada do Portela. Lá, Paulo iniciou suas atividades musicais e carnavalescas. Passou a frequentar as festas do bairro e participou dos blocos da região. Foi o fundador do primeiro bloco de Oswaldo Cruz, o “ Ouro Sobre Azul “. Passou a ser conhecido como Paulo da Portela, a partir de 1923, não por alguma ligação com a escola, que nem existia ainda, mas sim porque morava na Estrada do Portela. Nesta época conheceu Antônio Caetano e Antônio Rufino e com eles fundou o G.R.E.S. Portela. Na sua escola de coração, foi presidente, mestre de canto, diretor de harmonia, autor de enredo e compositor e lá esteve presente até 1941, quando teve um desentendimento com a diretoria da Portela, momentos antes do desfile. Afastou-se da agremiação
 e foi para a Lira do Amor, pequena escola de Bento Ribeiro. Mas sentiu-se desprestigiado e demonstrou isso no samba “ O Meu Nome Já Caiu No Esquecimento “.
     Paulo teve cerca de vinte músicas gravadas, mas a maioria, só depois de sua morte. Em vida, apenas três foram gravadas. São elas: “ Quem Espera Sempre Alcança “ lançada por Mario Reis, em 1931, “ Cantar Para Não Chorar “ em parceria com Heitor dos Prazeres, gravada por Carlos Galhardo, em 1938 e “ Arma Perigosa “ em parceria com Paquito, gravada por Linda Rodrigues com o conjunto de Benedito Lacerda. Seus sambas estiveram na voz de intérpretes famosos como, por exemplo, Roberto Ribeiro em “ Quitandeiro “ parceria póstuma com Monarco, Beth Carvalho em “ Linda Borboleta “ com a mesma parceria, Clementina de Jesus em “ Cocorocó “ , Paulinho da Viola em “ Coleção de Passarinhos “, Quarteto em Cy em “ Pam Pam Pam “, Zeca Pagodinho em “ Cantar de um Rouxinol “, entre outros. Vale lembrar que a Velha Guarda da Portela gravou, em 1989, um disco só com músicas de Paulo da Portela.
     Paulo não foi apenas um grande compositor. Sua trajetória artística inclui apresentações no palco. Entre dezembro de 1937 e janeiro de 1938, participou do grupo “ Embaixada do Samba “, junto com Heitor dos Prazeres, Marilia Batista e outros artistas, que apresentou-se no Uruguai. Em 1941, formou com Cartola e Heitor dos Prazeres o “ Conjunto Carioca “, fazendo apresentações em São Paulo. No Rio de Janeiro costumava apresentar-se em circos, que eram os palcos importantes na época. Foi um sambista consagrado, chegando a ser eleito Cidadão Samba, em 1937. Chegou a ter um programa na Rádio Cruzeiro do Sul chamado “ A Voz do Morro “, em 1941, junto com o amigo Cartola, onde apresentavam apenas sambas inéditos.
     Nosso homenageado não conseguiu prolongar sua carreira de sucesso. Ainda novo, com 47 anos, já apresentava uma saúde comprometida e faleceu, repentinamente, vítima de um enfarte, em 30 de janeiro de 1949. No entanto, deixou sua marca no cenário musical brasileiro. Sempre bem vestido e extremamente educado, colheu a estima de todos que o cercavam, exercendo uma liderança que só favoreceu a sua gente. Viveu pouco tempo, mas ainda é lembrado como alguém que colocou o samba e o sambista em um patamar mais elevado.
O seu nome não caiu no esquecimento.