Memória

Relembrando Ataulfo Alves

Por Alberto Buaiz Leite - 28/05/2019

“Ataulfo Alves, poeta/Que a musa iluminou/Receba do Galo de Ouro/Nossa homenagem/Pelas obras que deixou”. Estes versos são do samba de enredo “Na Ginga do Samba, Aí vem Ataulfo” de Barcelos, Dagoberto e Zeca Melodia que o G.R.E.S. Unidos de Lucas-o Galo de Ouro- apresentou no carnaval de 1988, homenageando o grande sambista. Nosso homenageado nasceu em Miraí, MG, em 09 de maio de 1909 e este mês comemoramos 110 anos de seu nascimento.
     Ataulfo veio de família pobre. Seu pai era lavrador e faleceu quando ele tinha 10 anos. Começou a trabalhar ainda garoto, para ajudar sua mãe. Foi leiteiro, engraxate, entregador de marmitas e condutor de bois. Aos 18 anos, veio para o Rio de Janeiro trazido por um médico de Miraí, doutor Afranio de Resende. Passou a trabalhar em seu consultório e, à noite, fazia limpeza na casa do médico. Aos 19 anos, já trabalhava numa farmácia como lavador de vidros e manipulador de receitas. Com esta idade, casou-se com Judite e com ela ficou até o fim da vida.
     Ataulfo residia no Rio Comprido e logo se aproximou do pessoal do Estácio. Já tocava violão e passou a participar das rodas de samba do bairro. Também participou do bloco “Fale Quem Quiser” como diretor de harmonia e alguns sambas seus foram cantados nos desfiles desta agremiação. Em 1933, o compositor Bide, já seu amigo, o levou à gravadora Victor, onde consolidou sua carreira de compositor. Neste mesmo ano, teve gravados os sambas “Sexta-feira”, por Almirante e “Tempo Perdido” por Carmen Miranda. Mas o primeiro sucesso veio em 1935, com “Saudades do meu Barracão”, gravado por Floriano Belham. A partir daí, começou a ganhar dinheiro com a música. Começou a compor com Bide, Claudionor Cruz, Wilson Batista, dentre outros e teve seus sambas gravados por grandes nomes como Silvio Caldas, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Odete Amaral, Ciro Monteiro e vários outros.
     Na década de 1940, sua carreira tomou impulso e Ataulfo começou a gravar suas músicas como “Leva meu Samba” e “Ai que Saudade da Amélia”, ambas em parceria com Mario Lago e “Atire a Primeira Pedra”, sempre acompanhado pelas suas pastoras. Nas décadas de 1950 e 1960, o sucesso o acompanhou. Foram inúmeros LPs gravados e muitas apresentações, no Brasil e no exterior. Esteve em Estocolmo, em 1961, numa caravana organizada por Humberto Teixeira e lá chorou ao ver o público cantando com ele “Ai que Saudade da Amélia”. Foi, também, a Dakar, representando o Brasil no 1º Festival Internacional de Arte Negra.
     Ataulfo Alves compôs mais de 300 músicas, inclusive muitos sucessos carnavalescos. Criou um estilo próprio de compor. Muitas de suas melodias traduziram a forma mais romântica do samba. Tinham um ritmo mais lento, arrastado e eram acompanhadas de letras fundamentadas na tristeza, na melancolia e na saudade. Além das músicas já citadas no texto, nosso homenageado deixou outros sucessos que até hoje são lembrados como “Covardia” com Mario Lago, “Leva meu Samba”, “Laranja Madura”, “Meus Tempos de Criança”, “Mulata Assanhada”, “O Bonde de São Januario”, “Oh! Seu Oscar” ambos com Wilson Batista, “Pois É”, que levou o pintor Pancetti a fazer um quadro inspirado no samba, e “Você Passa Eu Acho Graça” com Carlos Imperial.
     Infelizmente, nem só o sucesso o acompanhou, ao longo da vida. Ataulfo teve ao seu lado, por cerca de 20 anos, uma ulcera duodenal que acabou provocando sua morte, em 20 de abril de 1969.