Memória

O grande Geraldo Pereira

Por Luís Pimentel - 03/04/2013

Ele nasceu em um mês de abril. Dia 23, mesmo dia (mas não mesmo ano) de Pixinguinha. Em 1918. E morreu em mês de maio, no dia 8, em 1955. O compositor popular Geraldo Pereira viveu apenas 37, mas sua obra valiosíssima tem sido revisitada e regravada em vários momentos e por nomes marcantes da MPB. Sucessos como Falsa baiana (gravado originalmente por Ciro Monteiro), Bolinha de papel (sucesso com João Gilberto) e Escurinho (o escuro direitinho, que “agora está com a mania de brigão”), entre tantos outros, mereceram após sua morte inúmeras regravações. Em alguns casos, o grande público sequer tomou conhecimento do nome do verdadeiro autor dos sambas.

Conheço muita gente bem informada que canta nos bares Sem compromisso (“Você só dança com ele e diz que é sem compromisso/É bom acabar com isso, não sou nenhum pai João”) crente que está cantando Chico Buarque.
 

Em 1980 o cantor e compositor João Nogueira gravou o LP Wilson, Geraldo e Noel, com músicas de Wilson Batista, Geraldo Pereira e Noel Rosa. Um ano depois a gravadora Eldorado lançou um LP, Evocação V, inteiramente dedicado a Geraldo, com suas composições interpretadas, entre outros, por Elton Medeiros, Roberto Silva, Monarco, Jakson do Pandeiro e Nelson Sargento. E no carnaval de 1982, sob o tema Geraldo Pereira, Eterna Glória do Samba, o compositor da Estação Primeira de Mangueira foi enredo da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho. Paulinho da Viola incluiu o samba de Geraldo (Que samba bom) em seu show Bebadosamba e, em 2003, foi lembrado com honra e deferência no belo show/disco O samba é minha nobreza.
 

Geraldo Theodoro deixou mais de 300 sambas em catálogos de editoras. Chegou no Rio de Janeiro em 1930, com 12 anos, indo morar no Morro de Mangueira, em companhia de um irmão. Estudava e ajudava o mano numa birosca no local conhecido como Buraco Quente, no morro. Aos 18 anos tirou sua carteira de motorista e foi trabalhar no volante do caminhão da Limpeza Urbana. Nas folgas, enfiava-se nos bares de Mangueira, juntamente com os sambistas locais. Conheceu Cartola, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Fernando Pimenta, Geraldo da Pedra, Padeirinho e tantos compositores de valor da Estação Primeira. Logo estava fazendo as rondas das emissoras de rádio, em busca de gravação e divulgação.
 

Sua morte aconteceu depois de uma briga de bar com o lendário bandido e homossexual Madame Satã, que ostentava a fama de valente. Depois de uma discussão no Restaurante Capela, na Lapa, Satã acertou um soco no rosto de Geraldo Pereira. Bêbado, o compositor perdeu o equilíbrio e caiu na calçada, na porta do bar. Bateu com a cabeça no meio-fio e ficou desacordado, sendo carregado para o Hospital dos Servidores, onde morreu no dia seguinte de hemorragia intestinal. Já andava muito doente, com crises constantes de vômitos e evacuando sangue.

Bebia demais e estava se achando impotente. Aí metia a cara no Conhaque de Alcatrão de São João da Barra, batizado como “o conhaque do milagre” pelos reclames publicitários, na tentativa desesperada de reagir. Ao contrário, mais debilitado ficava.