Memória

O centenário de Jacob do Bandolim

Por Alberto Buaiz Leite - 26/02/2018

Ao longo de 35 anos de carreira, ele foi o maior divulgador do Choro em nosso país. Compôs cerca de 100 músicas, dentre elas belíssimos choros como “Noites Cariocas”, “Murmurando” e “Doce de Coco”. Trata-se de Jacob Pick Bittencourt, mais conhecido como Jacob do Bandolim. Nasceu em 14 de fevereiro de 1918, no Rio de Janeiro, foi criado na Lapa e ainda criança, costumava ouvir um vizinho tocar violino, ficando fascinado por aquele som. Aos 12 anos, a mãe o presenteou com um violino. No entanto, ele não se adaptou ao arco do instrumento e começou a tocá-lo utilizando grampos de cabelo. Arrebentou muitas cordas e uma amiga de sua mãe concluiu que o menino queria mesmo era tocar bandolim e deu um de presente a ele. Assim, o pequeno Jacob iniciou sua vida musical, como autodidata.


     Aos 15 anos, como amador, apresentou-se na Rádio Guanabara com um grupo de amigos. Em 1934, já com 16 anos, decidiu dedicar-se definitivamente ao bandolim. Inscreveu-se no “Programa dos Novos”, na Rádio Guanabara e venceu, recebendo nota máxima do júri composto por grandes nomes de nossa música. Foi contratado, passando a acompanhar artistas como Noel Rosa, Ataulfo Alves e Carlos Galhardo. Nos anos seguintes, tocou em várias estações de rádio, chegando a ter um programa seu na Rádio Mauá.


     Casou-se em 1940 com Adylia Freitas e em 1942 já tinham um casal de filhos, mas os cachês não eram suficientes para o sustento da família. Foi quando o compositor Donga, seu grande amigo, o convenceu a prestar concurso público. Jacob aceitou a sugestão e acabou tornando-se Escrevente Juramentado da Justiça do RJ. Assim, conseguiu uma estabilidade financeira que, além de dar melhores condições de vida para a família, permitiu uma dedicação maior ao seu bandolim, sem ser obrigado a acompanhar calouros e cantores nas rádios ou a fazer concessões à indústria fonográfica que sempre fazia pressão junto aos artistas.


      Em 1941, fez sua primeira gravação, acompanhando Ataulfo Alves. Seu primeiro disco em 78 RPM, como solista, foi lançado em 1947 pela Continental, contendo um choro de sua autoria, “Treme Treme” e a valsa “Gloria” de Bonfiglio de Oliveira. Em 1949, foi contratado pela RCA Victor onde ficou por duas décadas, lançando dezenas de 78 RPM e vários LPs. Um dos grandes marcos de sua carreira foi a gravação de “Retratos”, uma suíte para bandolim, regional e orquestra composta por Radamés Gnattali, entre 1956 e 1958. A obra homenageava, em cada movimento, um grande nome de nossa música instrumental—Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga. Este trabalho exigia um exímio solista e Radamés convidou Jacob para executá-lo. Para isso o bandolinista aprofundou seus estudos de teoria musical, com ajuda de Chiquinho do Acordeon. Foram anos de estudo até sua gravação em 1964.


     Na década de 1960 Jacob resolveu formar um grupo para acompanhá-lo e participar dos saraus realizados em sua casa, em Jacarepaguá. O conjunto reuniu, além dele, os violonistas Dino Sete Cordas, Cesar Faria e Carlos Leite, o cavaquinista Jonas Silva e Gilberto D’Avila, no pandeiro. Em 1966 Jacob batizou o grupo de Conjunto Época de Ouro, agora com a participação de Jorginho do Pandeiro. Mas sua carreira não passaria da década de 1960. Nos últimos anos de vida a saúde ficou debilitada, talvez em função dos cinco maços de cigarros que fumava por dia. Superou dois enfartes, mas em 13 de agosto de 1969 teve um terceiro e não resistiu.


     Nosso homenageado dedicou-se à música até os últimos anos de vida. Cabe lembrar um espetáculo magnífico realizado por ele, Elizeth Cardoso e Zimbo Trio, em 1968, no Teatro João Caetano gravado ao vivo e lançado em 2 LPs.


          Não é possível falar de bandolim e música instrumental no Brasil sem mencionar seu nome. Jacob foi e é uma escola. Deixou um importante acervo hoje incorporado ao Museu da Imagem e do Som. Merece homenagens eternas do público e dos músicos brasileiros.