Memória

Nelson Gonçalves – centenário de nascimento

Por Alberto Buaiz Leite - 01/07/2019

A história da música popular brasileira registra um período, extremamente significativo, que foi a “Era do Rádio”. Engloba as décadas de 1920, 1930, 1940 e 1950 e foi a época em que surgiram os maiores intérpretes nacionais, com suas belas vozes. Dentro deste contexto, é que se destacou um dos mais importantes cantores que o Brasil já teve, conhecido como o “Rei do Rádio”, o grande, Nelson Gonçalves.
     Antonio Gonçalves era seu verdadeiro nome e era filho de imigrantes portugueses. Nasceu em 21 de junho de 1919, em Santana do Livramento, RS, mas, ainda criança, foi com os pais para São Paulo. Desde novo, para ajudar no orçamento familiar, trabalhou como engraxate, jornaleiro, tamanqueiro e, mais tarde, como garçom. Começou a cantar profissionalmente, ainda na capital paulista, contratado pelas rádios PRA-5 e Cruzeiro do Sul. Mas seu sonho era tornar-se artista, no Rio de Janeiro.
     Nelson aqui chegou, em 1939, e penou dois anos até ser reconhecido como cantor. Foi reprovado em vários programas de calouros, nas rádios cariocas, mas não desistiu. Teve problemas ao procurar o presidente da RCA Victor e o diretor da rádio Mayrink Veiga. Nelson não era gago, como se costuma dizer. Era taquilálico -pessoa que fala rápido demais- daí seu apelido de “Metralha”. Quando pediam que ele falasse mais devagar, ficava nervoso e acabava gaguejando e ninguém queria contratar um cantor gago. Depois do problema esclarecido, em 1941, ele foi contratado pela rádio, com a ajuda de Carlos Galhardo, já seu amigo. No mesmo ano, com o apoio de Benedito Lacerda, conseguiu gravar, na RCA, um 78RPM, com as músicas “Sinto-me Bem” de Ataulfo Alves e “Se eu Pudesse um Dia” de Osvaldo França e Rosano Monello. Mas a consagração veio, em 1942, com o lançamento de “Renúncia” de Mario Rossi e Roberto Martins. Em 1946, foi contratado pela rádio Nacional e seu nome ficou conhecido nacionalmente. A partir daí, sua carreira tomou um grande impulso. Gravou dezenas de 78 RPM e LPs e foi um dos maiores vendedores de discos, em nosso país. Fez apresentações por todo o Brasil, no Uruguai, Argentina e Estados Unidos e participou de vários filmes nacionais, como cantor.
     O cancioneiro brasileiro foi enriquecido por inúmeras gravações, de grande sucesso, transmitidas pela sua voz, como: “Maria Betânia” de Capiba, “Normalista” de David Nasser e Benedito Lacerda, “A Volta do Boêmio” e “Meu Vício é Você” ambas de Adelino Moreira, “Carlos Gardel” e “Pensando em Ti” assinadas por Herivelto Martins e David Nasser, “Fica Comigo esta Noite” e “Mariposa” parcerias de Nelson com Adelino Moreira e “Caminhemos” de Herivelto Martins. Lembrou-se, também, de um de nossos maiores compositores e gravou o LP “Noel Rosa na Voz Romântica de Nelson Gonçalves”, no qual interpretou os clássicos do poeta da Vila.
     O sucesso acompanhou nosso homenageado até o fim de sua vida. Nelson Gonçalves faleceu, no Rio de Janeiro, em 18 de abril de 1998, de infarto, mas atuou até pouco antes de morrer. Nunca foi esquecido e era visto como o último representante da geração das grandes vozes do rádio. Pela qualidade técnica de sua interpretação e a extraordinária extensão de sua voz, sempre foi considerado um dos maiores cantores do Brasil.