Memória

Nássara, o centenário e uma historinha de parceria

Por Luís Pimentel - 05/11/2010

Conhecido também como cartunista e caricaturista de fino traço, Antonio Gabriel Nássara, autor (juntamente com Haroldo Lobo) da imbatível marchinha Alá-lá-ô (ô-ô-ô-ô, mas que calor, ô-ô-ô-ô), nasceu no Rio de Janeiro, no dia 11 de novembro de 1910. Portanto, este é o ano do seu centenário! Neste ano de tantos centenários na MPB, quase que o seu ficou esquecido.

Nássara adorava uma parceria. Compôs juntamente com os grandes, entre eles Wilson Batista. Um dos maiores sucessos dos dois foi a marcha Balzaquiana (1950). No livro Wilson Batista e sua época (Edições Funarte), o jornalista e pesquisador Bruno Ferreira Gomes, amigo do peito de Wilson, transcreve depoimento muito bacana do compositor campista, descreve o processo de inspiração, transpiração e bate-pernas que resultou naquele que é dos maiores sucessos do carnaval de todos os tempos. Vale a pena reproduzir:

“Nássara acendeu um cigarro, colocou no canto da boca, tirou a caixa de fósforos do bolso e começou a bater, olhando para o alto. Subimos os dois a Avenida Rio Branco, em direção ao Obelisco. E foi saindo: “Não quero broto, não quero, não quero não. Não sou garoto pra viver na ilusão (...) Eu tiro um papel de cigarro do bolso e escrevo toda a primeira parte do verso, e nos encaminhamos em direção ao banco vazio que tem em frente à estátua de Deodoro da Fonseca, e continuamos a cantarolar. Passamos então para a segunda. Nássara me diz que precisamos repetir Balzac na segunda parte. Achei boa a idéia e nasceu fácil (...) Levantamos do banco e fomos de novo em direção ao Obelisco, e descemos a Rio Branco em direção à Praça Mauá. “O francês sabe escolher, por isso ele não quer qualquer mulher. Papai Balzac já dizia, Paris inteira respondia...” Tá bom, Nássara, tá bom. Falta apenas o arremate (...) Quando chegamos à Praça dos Arcos, esquina de Mem de Sá, Nássara pediu uma cerveja, dois copos e um pedaço de papel branco ao garçom, tirou a caneta do bolso e escreveu todos os versos da marcha. E me disse com ar vitorioso: “Acho que não estamos fora deste carnaval. Você vai ficar encarregado de não esquecer de escrever esta melodia” (...) Olho para o relógio e já é quase uma hora da madrugada. Tenho que pegar o último bondinho que sai da Carioca para Santa Teresa, quando, de repente, surge no princípio dos Arcos o bonde. Atravesso a rua correndo para alcançar a ladeira de Santa Teresa (...) Quando estava correndo, perguntou-me o Nássara a quem daríamos a marcha para gravar. Repondi-lhe que devia ser aquele rapaz que canta no Teatro Recreio, o Jorge Goulart”.

Uma delícia de historinha, não?