Memória

Nara Leão

Por Luís Pimentel - 02/06/2004

Eterna musa da bossa nova e da canção de protesto

Há 15 anos perdemos Nara Leão – o timbre curto mais suave, os olhos negros mais inquietos, o sorriso mais tímido e os joelhos mais sensuais da MPB, pelo menos segundo a turma que fazia questão de ocupar as primeiras cadeiras do teatro em todos os seus shows. O câncer venceu a batalha, travada por ela durante três anos, e no dia 7 de junho de 1989 calou para sempre a voz que estourou como ícone da bossa nova e que depois deu tom e cores à canção de protesto. Desde o histórico Opinião, show montado em 1964, com textos de importantes nomes da esquerda brasileira, como Ferreira Gullar, Vianinha e Paulo Pontes, que Nara comandava no teatro do mesmo nome ao lado dos cantores e compositores Zé Kéti e João do Vale.

Menina de classe média, Nara Lofego Leão nasceu em Vitória (ES), no dia 19 de janeiro de 1942. Era muito pequenina quando a família resolveu se mudar para o Rio de Janeiro, indo morar em um dos pontos mais chiques da cidade, a Avenida Atlântica, em Copacabana. Foi aluna de violão do grande cantor e instrumentista Patrício Teixeira e flertou com o jornalismo: na juventude, foi repórter de Ultima Hora, jornal de propriedade de seu cunhado (casado com Danuza Leão) Samuel Wainer. Nas horas vagas, recebia no belo apartamento em que morava, para noites musicais, toda a turma que mais tarde veio a deslanchar o movimento bossa nova – Carlos Lyra e Roberto Menescal sempre à frente. Profissionalmente, Nara se lançou em 1963, participando na Boate Au Bom Gourmet, no Rio, do espetáculo musical Pobre Menina Rica, de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. Neste mesmo ano gravou alguns faixas do LP de Lyra e a trilha sonora do filme Ganga Zumba, de Cacá Diegues (que mais tarde veio a ser seu marido). No ano seguinte lançou seu primeiro LP, Nara, gravando canções de compositores da bossa nova e de representantes do chamado "samba de morro" – Zé Kéti, João do Vale, Cartola, Ismael Silva e Nelson Cavaquinho entre eles.

A eterna a musa da bossa nova passeou com desenvoltura por diversos movimentos. Gravou músicas emblemáticas do tropicalismo e quando abraçou a causa dos compositores de protesto foi fundamental para as carreiras de gente como Chico Buarque e Sidney Miller. O desaparecimento prematuro de Nara Leão foi um tranco para a MPB, deixando órfãos inúmeros compositores. Sivuca e Paulinho Tapajós compuseram, em sua homenagem, a comovente Canção que se imaginara, registrada pelo primeiro no CD Enfim solo, lançado em 1997. Em 1999, em tributo à cantora, foi montado o espetáculo Nara, uma senhora opinião, com Roberto Menescal e Cris Delano. O show, idealizado e produzido por Solange Kafuri, foi transmitido para todo o Brasil pela TVE, através do programa "Ao vivo entre amigos", apresentado por Ricardo Cravo Albin. Ainda neste ano, o BNDEs abriu a exposição "Nara pede passagem", mostrando facetas de sua vida e obra. Felizmente, Nara não foi esquecida. E jamais será.