Memória

Heitor dos Prazeres, um dos maiores

Por Gerdal J. Paula - 17/07/2023

  De rica inserção no cosmo da nossa arte popular, o carioca Heitor dos Prazeres, crescido na área do Mangue, da Praça Onze e adjacências, foi objeto, em 2009, na Sapucaí, pelo Grupo B, de justa homenagem da escola de samba Alegria da Zona Sul, que desfilou com o enredo O Rio É um Prazer e de Prazeres Vive o Rio. Embora mais lembrado na música popular do que na pintura, nesta, com seu "naïf" de cabrochas e malandros de pés alteados na ginga do samba e na ambiência da favela, logrou importantes feitos, como a participação em bienais em São Paulo, nos anos 50, e reconhecimento internacional, como o do MoMa, em Nova York. Sobrinho de Hilário Jovino Ferreira, o Lalu de Ouro, fundador do seminal rancho Rei de Ouros, introdutor do mestre-sala nesse tipo de desfile, e frequentador da casa de Tia Ciata, Heitor esteve presente na fundação de várias escolas do Rio de Janeiro, como a pioneira Deixa Falar, a Vizinha Faladeira, a Mangueira e a Portela - à qual deu as cores azul e branco. Respeitado executante de cavaquinho, criou um método para o estudo do instrumento e, em 1939, ao lado de Grande Otelo e Josephine Baker, aparecia tocando no palco do então prestigiado Cassino da Urca. Da aproximação com Noel Rosa surgiu, de ambos, a clássica marcha "Pierrô Apaixonado", gravada pela dupla Joel e Gaúcho, e, com Herivelto Martins, compôs outra maravilha, "Lá em Mangueira", em 1945, um samba ouvido primeiramente nas vozes de Dalva de Oliveira e da Dupla Branco e Preto. Vencedor do I Concurso Oficial de Músicas para o Carnaval, dois anos antes, com "Mulher de Malandro", defendida por Francisco Alves, compôs a "Canção do Jornaleiro", evocativa de um dos ofícios da infância, e dele o cantor e pandeirista Pedrinho Miranda regravou o protesto "Chega de Rock Rock". Com o "passarinheiro" Sinhô, "rei dos seus sambas", teve polêmica parceria, de que resultou, por exemplo, "Gosto Que Me Enrosco", de amaxixado sob medida para a interpretação do refinado Mário Reis. Pouco antes de falecer, em 1966, aos 68 anos, foi tema de um curta-metragem, dirigido por Antônio Carlos Fontoura, em cujas imagens aparece no seu ateliê, no Centro do Rio, e, à maneira de Ataulfo Alves, levando o seu samba com o apoio vocal de pastoras.

       https://www.youtube.com/watch?v=Vtgsm6bMF2k ("Pierrô Apaixonado")

       https://www.youtube.com/watch?v=aQiKCBFiRn0 ("Consideração")

https://www.youtube.com/watch?v=D4PMiuyj5qw ("Heitor dos Prazeres, Um Artista Carioca" - carnaval de 1977)

https://www.youtube.com/watch?v=LPQ3HlFiYo4 ("Lá em Mangueira")

https://www.youtube.com/watch?v=bPA_Woas0o0 ("Eu Não Fiz Nada")

https://www.youtube.com/watch?v=NSCYg3ZnDQY (Heitor dos Prazeres - doc - 14 min)   

       Pós-escrito: a) postagem dedicada ao músico, também artista plástico, Heitorzinho dos Prazeres, filho do mestre; b) iniciada em 28 de junho, com término previsto para 18 de setembro, uma das mais representativas mostras ("flyer" abaixo) sobre vida e obra de Heitor dos Prazeres, em dez salas do CCBB (Rua Primeiro de Março, 66), das 9h às 21h, todos os dias (exceto terça-feira), com entrada franca. Idealizada por Margareth Telles, tem como curadores Haroldo Costa, que esteve com Heitor no I Festival Mundial de Artes Negras, em Dacar, capital do Senegal, em 1966; Pablo León de la Barra e Raquel Barreto; c) no terceiro "link" acima, de Amaury Machado, no referido ano, outra justa homenagem que Heitor dos Prazeres recebeu de escola de samba: desta feita, na passarela da Av. Presidente Antônio Carlos, no Castelo (Centro do Rio), pelo Grupo de Acesso, no desfile da Em Cima da Hora, de Cavalcante; d) nos demais "links", músicas de Heitor dos Prazeres: "Pierrô Apaixonado" (parceria de Noel Rosa), com ele e sua gente; "Consideração" (parceria de Cartola), com Beth Carvalho; "Lá em Mangueira" (parceria de Herivelto Martins), com Leo Russo; "Eu Não Fiz Nada", com os Irmãos Tapajós (Paulo e Haroldo); e) foto extraída de "Na Cadência do Samba", livro de Haroldo Costa lançado pela Novas Direções em 2000.