Memória

Guilherme de Brito: 10 anos de saudade

Por Alberto Buaiz Leite - 24/04/2016

Numa entrevista concedida em 2002, ao lhe perguntarem qual a receita para chegar aos 80 anos, Guilherme de Brito respondeu: “Não desejar mal a ninguém, só fazer o bem, fazer caridade e ajudar a quem precisa.” Este é o artista que, além do enorme talento, foi um grande ser humano.


     Guilherme era de origem humilde. Nasceu em Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro, em 03 de janeiro de 1922 e a música o acompanhou desde criança, pois o pai e a irmã tocavam violão e eram freqüentes, em sua casa, reuniões com a presença de músicos, cantores e compositores. Ainda pequeno, já queria tocar e acabou ganhando um cavaquinho. Com o instrumento andava pelas calçadas da Avenida 28 de setembro, em Vila Isabel, tocando e costumava ganhar, de um quitandeiro da região, frutas como cachê.


     Começou a compor em 1938, mas somente na década de 1950 iniciou sua carreira artística, atuando, como cantor, na Radio Vera Cruz. Em 1955, Augusto Calheiros gravou Audiência Divina e Meu Dilema, em 78 RPM, ambas com letra e música de Guilherme. O compositor, também, desenvolveu, ao longo da carreira musical, a de pintor e seus quadros chegaram a ser expostos até no exterior.


     Ainda na década de 1950, conheceu Nelson Cavaquinho, seu parceiro mais constante. Foram amigos, compadres, parceiros e responsáveis por grandes obras de nosso cancioneiro como Pranto de Poeta, Folhas Secas e A Flor e o Espinho. Esta última mostra seu enorme talento de letrista com os versos: “Tire seu sorriso do caminho/que eu quero passar com a minha dor.” Guilherme contou, numa entrevista, que foram feitos a partir da observação do cotidiano. Disse que freqüentava uma leiteria, na Rua D. Pedro I, no Rio de Janeiro, e lá costumava aparecer uma bonita mulher, que entrava no estabelecimento, sorrindo escandalosamente, com aqueles dentes lindos. Aquela imagem ficou em sua mente e, um dia, fez a primeira parte do samba, usando os versos, e deixou a segunda parte para o Nelson fazer. Havia entre os dois, um compromisso de comporem, sempre, juntos. Guilherme jamais traiu este acordo, mas o mesmo não aconteceu, por parte do parceiro. Entretanto, isto nunca afetou o bom relacionamento entre eles.


     Após a morte de Nelson Cavaquinho, em 1986, Guilherme passou a compor com outros parceiros e sua carreira teve um novo impulso, gravando alguns CDs e fazendo inúmeras apresentações, inclusive no Japão.


     Guilherme de Brito faleceu em 26 de abril de 2006, vítima de um enfarto que o deixou em coma por 15 dias. Ficou a lembrança e a saudade deste múltiplo artista que, certamente, foi um dos grandes representantes da música brasileira. Sua elegância no palco, sua cordialidade e sua voz e violão plangentes, nunca sairão da mente daqueles que cultuam a arte musical brasileira.