Memória

Candeia 80: samba e resistência

Por Luís Pimentel - 07/08/2015

     “Hoje é manhã de carnaval/Há esplendor/As escolas vão desfilar garbosamente/E aquela gente de cor/Com a imponência de um rei/Vai pisar na passarela”. (Dia de graça)

Antonio Candeia Filho é samba e resistência. Um dos maiores nomes do samba, nasceu em 1935 (17 de agosto) e morreu em 1978 (dia 16 de novembro). Viveu apenas 43 anos, mas criou intensamente e deixou uma obra e uma história de vida que só enchem de orgulho seus pares e seus seguidores. Mito da resistência cultural brasileira, começou a fazer músicas ainda na adolescência, por inspiração caseira. Seu pai tocava flauta e carregava o garoto para as rodas de samba e de choro que ferviam em Oswaldo Cruz e Madureira. Virou compositor da Portela e, em 1953, antes de completar 18 anos, viu sua gloriosa agremiação de Madureira desfilar com um samba-enredo de sua autoria, As seis cartas magnas.

O Candeia participativo e contestador desponta na segunda metade dos anos 70, quando, graças à abertura política, os movimentos populares retomaram sua organização. É dessa época a criação do Centro de Estudos Afro-Asiáticos e do Instituto Popular de Cultura Negra, órgãos importantes para a retomada dos movimentos negros no Rio de Janeiro. Muito ligado aos dirigentes e militantes do Centro e do Instituto, Candeia funda o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, com duas premissas básicas: a “valorização das culturas negras em tudo o que se refere às suas aspirações” e também a “valorização da manifestação da arte popular, há muito banida das escolas de samba”.
Voltou a brilhar em 1995, quando o parceiro Martinho da Vila gravou o disco Tá delícia, tá gostoso, no qual incluiu um pot-pourri chamado “Em memória de Candeia”, que tinha as faixas Dia de graça, Filosofia do samba, De qualquer maneira, Peixeiro grã-fino e Não tem vencedor. Enquanto houver samba haverá Candeia. A máxima está traduzida na canção-homenagem composta por Luiz Carlos da Vila, lembrando e perpetuando a memória do mestre e amigo: “A chama não se apagou/Nem se apagará/És luz de eterno fulgor, Candeia”.

Em 1997 foram relançados em CD três discos de Candeia: Samba da antiga, de 1970, Filosofia do samba, lançado originalmente em 1971 e Samba de roda, de 1974. Foi um homem valente, que enfrentou algumas adversidades na vida com determinação e força. Viveu os seus últimos anos (mais de 10) preso a uma cadeira de rodas, em decorrência de um tiro na coluna vertebral – depois de uma discussão no trânsito, no final da década de sessenta. Policial Civil, se aposentou por invalidez após o acidente e pôde, então, se dedicar mais à música, aos movimentos musicais e às causas sociais de seu povo.