Memória

Babão, outro grande Geraldo da MPB

Por Gerdal J. Paula - 29/09/2015

 Da flauta "salivada" que tocava, até acidente que, afetando seriamente as mãos, o impediria de fazê-lo, adveio o apodo Babão a mais um Geraldo saudoso e notável das lides de criação do samba popular.

 Embora nascido no Terreiro Grande, no Morro do Salgueiro, àquela escola de bambas "nem melhor nem pior, apenas diferente", divisora de águas na "mise-en-scène" do desfile principal, ele só viria, em 1962, para fazer parte da ala de compositores.

A Acadêmicos do Salgueiro, de nome sugerido por outro baluarte, Noel Rosa de Oliveira, surgira nove anos antes, como produto da fusão de duas escolas daquela colina da Tijuca - Azul e Branco e Depois Eu Digo -, mas Geraldo Soares de Carvalho, o Geraldo Babão (foto abaixo), continuou fiel à terceira então existente na comunidade, a Unidos do Salgueiro, extinta pouco depois, passando ainda, por breve tempo, na Unidos de Vila Isabel.

A exemplo de um renomado partideiro do Império Serrano, Nílton Campolino - com quem eu pude conversar em diversas viagens do Leblon a Laranjeiras pelo itinerário do coletivo 570 -, Babão também foi trocador e, como já lembrou em entrevista o comunicador Adelzon Alves, ia, ainda uniformizado, ao programa desse amigo da madrugada para mostrar o seu samba-referência, moldado nas regras da arte, o qual, em particular na seara do enredo, levou-o a distinção de excelência com "Chico Rei" (feito em parceria com Binha, seu irmão, e Djalma Sabiá), um dos mais evocados no "hinário" da vermelho e branco.

Em 1965, quando do quarto centenário do Rio, novamente Babão, em parceria com Valdelino Rosa, animou o cortejo do Salgueiro, desta vez campeão, com outro samba de grata lembrança, "História do Carnaval Carioca". Ainda em dois carnavais mais à frente, os de 1973 e 1977, com "Eneida, Amor e Fantasia" e "Do Cauim ao Efó, com Moça Branca, Branquinha", respectivamente, a escola voltaria à passarela com Babão na ponta da língua. Apesar do seu prestígio autoral, ele não logrou, infelizmente, a realização de um disco solo (como ocorreu, por exemplo, com outro bamba, Darcy da Mangueira, em 1970, em elepê da Polydor), uma frustração que o aficionado da chamada raiz pôde mitigar com o relançamento em caixa dos elepês que, em 1974, a Discos Marcos Pereira produziu para destacar a história de grandes escolas de samba cariocas.

Naquele destinado ao Salgueiro, Babão marca presença em quatro das doze faixas, ora como compositor, ora como cantor, além de ter atuado como diretor de harmonia. Essa grande figura do samba, incluindo o partido-alto, faleceu em 22 de maio de 1988, aos 61 anos, em decorrência de complicações de saúde motivadas por tombo ocorrido em escada que, da Lapa (Rua Joaquim Silva), dá acesso a Santa Teresa.