Memória

Agostinho dos Santos, 40 anos sem sua voz

Por Gerdal José de Paula - 30/04/2013

Ele teria completado 80 anos este ano, no dia 25 de abril. O grande cantor Agostinho Santos nos deixou no dia 12 de julho de 1973, encerrando a carreira em asas malsinadas da Varig, no destino de Atenas, onde defenderia "Paz sem Cor", música dele e de Nancy dos Santos, no festival Olimpíada da Canção. Sucedeu assim o cúmulo pessoal e irreversível do azar logo refletido em notícia de jornal: a queda do
avião perto do aeroporto de Orly, em Paris, onde faria escala, calando  rematuramente uma das vozes mais cristalinas e envolventes da MPB.

O cantor, um paulistano do Bexiga que começou como "crooner" das orquestras de Orlando Ferri e Osmar Milani, atuou nas rádios América e Nacional, em Sampa, até vir ao Rio de Janeiro, em 1955, ganhando, aqui, no ano seguinte, os troféus Roquette-Pinto e Disco de Ouro pela gravação de "Meu Benzinho" (versão de "My Little
One", cantada pelo norte-americano Frankie Laine). Um êxito que lhe preparou a cama para a fama advinda, em 1959, com músicas que gravou de Tom e Vinicius, como "A
Felicidade", e de Luiz Bonfá e Antônio Maria, como "Manhã de Carnaval" e "Samba de Orfeu" (dos versos acima), constantes do "score" de "Orfeu Negro", filme com direção do francês Marcel Camus.

Lá se vão, portanto, 40 anos de uma saudade que aumenta com a distância das românticas noites de Agostinho, hoje sem o suave encanto que, então, lhes conferia na interpretação. Graças a ele, de noticiado "affair" com a cantora Elza Laranjeira em fins dos anos 50, o pianista e compositor João Donato passaria a ter músicas letradas e a cantar, assim convencido, no Natal de 1972, em encontro havido na casa de talentoso colega de teclado e inspiração, Marcos Valle. Também pelo empenho de Agostinho, Milton se revelaria no II FIC por meio de "Travessia" (com Fernando Brant, em sua primeira letra, na parceria), uma das três canções (sendo "Maria, Minha Fé" e "Morro Velho" as outras duas) que mostrara ao cantor, que estava às voltas com o
repertório de um novo disco. Desanimado com o que considerara um mau desempenho em festival anterior, o Berimbau de Ouro, não era intenção de Milton participar do concurso musical da TV Globo, apesar da insistência do amigo, que inscreveu, à revelia do Bituca, as referidas canções, das quais "Travessia", como é consabido, brotaria para a consagração popular. Inimitável e espetacular, como adjetivado, sem exagero, em capas de dois dos seus elepês, Agostinho, com o seu canto afinado e diferente, tinha consciência de figurar entre os renovadores da nossa música popular, ajudando a divulgá-la em vários países, mormente Portugal, onde fez disco pela Tecla.
Ainda em 1967, dele, juntamente com a cantora Cláudia, seria a voz que, em show,  abrilhantaria o início das transmissões da TV Bandeirantes, em Sampa, logo após discurso de João Saad, presidente da emissora. Agostinho, um homem com Deus, teria completado 80 anos no último 25 de abril. Um "alguém que existe", sem tristeza, na "balada" da boa memória nacional.

P.s. A filha de Agostinho dos Santos com Mafalda Palheta, Nancy dos Santos, mora há décadas em São Bernardo do Campo, onde mantém o Ferradura, um bar conchegante e com música ao vivo que é ponto de encontro de artistas, sobretudo do Grande ABCD. Segundo informação colhida na rede, inspirado pela lembrança do cantor, com acervo atraente à vista dos freqüentadores.