Memória

85 anos de Walter Alfaiate

Por Luís Pimentel - 01/06/2015

Ele nasceu em Botafogo (no dia 7 de junho de 1930), seu bairro e time do coração. “Meu Botafogo querido/Tudo em ti é real”, como diz o samba. Mas adorava viver e bater pernas em Copacabana (sua alfaiataria era ali, na Galeria Ritz, e o seu bar preferido também era o bom e velho Bip-Bip, na Rua Almirante Gonçalves) e se apresentar nas casas noturnas da Lapa, no Candongueiro, na roda do Samba de Botafogo, onde quer que fosse chamado.

     Walter Alfaiate (aqui no desenho de Amorim) Cantor e compositor, criado no bairro pelo qual era apaixonado, o homem que faria 85 anos nesse mês de junho, e que a MPB perdeu há cinco anos, era uma das mais belas vozes da Música Popular Carioca (e brasileira, naturalmente). Do time e do gabarito de Ciro Monteiro e de Roberto Silva. Valorizava como ninguém os compositores com quem conviveu na juventude. Gravou e regravou Micau e Miúdo, Niltinho Tristeza e, especialmente, seu parceiro Mauro Duarte, por quem tinha enorme admiração.

     Pouco reconhecido pela mídia e pelo mercado fonográfico, jamais se queixou de não ser suficientemente lembrado. Tocava a vida, entre os ofícios da arte e da alfaiataria com firmeza e sem ressentimentos. Bom de copo e de prosa, jamais o vi reclamando; era praticamente da máxima que diz que quem reclama já perdeu.

     O seu último disco chama-se Tributo a Mauro Duarte – produzido por Ruy Quaresma, saiu pelo selo CPC –, onde o incansável magnata supremo da elegância rende homenagem a um velho amigo de batalhas e de juventude, o saudoso Mauro Duarte (1930-1989), o mineiro mais carioca que Botafogo já hospedou, imperador da Bambina e de todas as quebradas da São Clemente. Nele, o melhor da obra de Mauro e seus grandes parceiros, Walter Alfaiate (então Walter Nunes) entre eles.

     O CD primeirão, Olhaí, veio à luz quando Walter beirava os 70 anos, graças ao empenho pessoal dos compositores Marco Aurélio e Aldir Blanc, que criaram um selo para viabilizar a façanha. Aldir ainda fez, juntamente com Paulinho da Viola, o samba carro-chefe Botafogo chão de estrelas para o ferrenho botafoguense (do time) e botafoguista (do bairro).
     Grande amigo dos amigos (tive a honra de figurar entre eles), Walter animava o ambiente e as mesas onde se sentava e convivia com muita picardia, generosidade e carisma. Não à toa, se autoproclamava e era reconhecido como “o magnata supremo da elegância”, como a voz poderosa e o sorriso mais bonita que a música brasileira já viu. Naquela ressaca carnavalesca de 2010 a música brasileira, que ainda se refazia da perda de Luiz Carlos da Vila, perdeu um grande craque. Mas “sacode, Carola”, que a luta continua.