Homenagens

"Vai ter forró na casa do "Biu"/você vai ver o que nunca viu..."

Por Gerdal José de Paula - 11/08/2013

E, assim, "doidinho, doidinho" pelo resfolego da sanfona num forró bem animado, percebe-se a importância desse instrumento na rápida formação de pares dançantes no salão, melhor ainda quando o som do fole provinha do talento maior de José Domingos de Morais, vulgo Dominguinhos (fotos abaixo), pernambucano de Garanhuns e, com tal vir ao mundo, conterrâneo de um imediato ex-presidente da República.

Nessa cidade, à porta do Hotel Tavares Correia, de pandeiro na mão aos 8 anos de idade (acompanhando os irmãos Morais, à sanfoninha de oito baixos, e Valdomiro, ao melê, no conjunto Os Três Pinguins), Dominguinhos despertava para o fascínio da música popular, abraçando os oito baixos pouco depois e, ainda lá, criança ainda, conhecendo aquele que se tornaria o seu padrinho musical e o estimularia a vir com a família para o "eldorado" carioca: Luiz Gonzaga.

Já no Rio de Janeiro, aos 16 de idade, Dominguinhos seria apresentado por Gonzagão como o seu herdeiro artístico e, na primeira sessão de gravação de que participou, no ano de 1957, em estúdio da RCA (numa bolacha do Lua, de quem seria até chofer de caminhão, na década seguinte, em algumas viagens do rei do baião a trabalho), formou com Zito Borborema e Miudinho o primeiro Trio Nordestino, com o qual também fez sua primeira excursão profissional, pelo Nordeste.

Num pequeno selo, Cantagalo, pertencente a Pedro Sertanejo, pioneiro do forró em São Paulo e pai do também grande Osvaldinho do Acordeom, Dominguinhos gravou "Fim de Festa", em 1964, o disco inaugural de uma longa série de registros em vinil, CD e, mais recentemente, na década passada, um DVD (comemorativo de 60 anos de carreira). Se a sua sanfona, sem perder o tom dado pelo longo convívio com Luiz Gonzaga, sempre se manteve reverente à força da tradição rítmica da região de origem, ganhou em amplitude ao acolher, no Sudeste, em natural rasgo de expansão estético-estilística, outras vertentes, menos rurais e mais urbanas, de expressão do sentimento inspirador de melodia. "Doidinho, doidinho" pelo seu instrumento e tocando-o muito mais que "direitinho", marcou presença, antes da merecida fama, em "dancings", gafieiras, churrascarias e até mesmo inferninhos.

E, agora, no firmamento em festa da nossa canção popular, é mais uma estrela que brilha, com intensidade. Sem volta pro nosso aconchego, subiu aos 72, no último 23 de julho, levando consigo uma mala com bastante saudade.