Homenagens

Tito Madi, a voz de Pirajuí

Por Gerdal J. Paula - 31/08/2015

Ao pedir àquele "petit enfant" (galicismo do qual fazia uso no trato afável com os colegas de rádio) que mostrasse uma música nova em atração do dia seguinte na Tupi, o Maestro Carioca, pai do também maestro Ivan Paulo, simplesmente deu azo a um dos mais altos momentos de Tito Madi em seu encanto autoral.

Chegado ao Rio havia pouco, em meados dos anos 50, vindo de Sampa - onde se destacara com a sua "Não Diga Não", com arranjo de Luiz Arruda Paes -, Tito Madi, em "seca" momentânea de canção para atender ao saudoso regente, transpirou muito na criação até chegar à inspiradíssima "Cansei de Ilusões". Uma curiosidade de carreira que logo remete a outro clássico, "Chove Lá Fora", de chuva e noite fria, ironicamente, apenas dentro dele, já que esse eureca lhe adveio em dia de sol forte e calorão, na Pirajuí natal, durante férias que passava por lá.

Foi, aliás, nessa cidade paulista que ele se tornou professor primário, mas, de família musical (o pai, por exemplo, libanês, cantor amador e tocador de alaúde, a quem acompanhava ao violão, dedilhado desde tenra idade), percebeu que outro rumo profissional - um belo horizonte na MPB - naturalmente se lhe desenhava, além daquele, brevemente tentado e dispensado, por força de outra paixão: o futebol - foi um ponta-esquerda mediano do clube de Pirajuí e até treinou na capital, no São Paulo.

Tito, com um irmão, criou A Voz de Pirajuí, um serviço de alto-falante do "maior município cafeeiro do mundo" - como gostavam de alardear - e ainda em Pirajuí, ouvinte assíduo da Rádio Nacional do Rio, formou com colegas de colégio o conjunto vocal Estudantes Alegres - tirante a Os Cariocas, que adoravam - e, mais adiante, na emissora de rádio local, até cantou, apesar de mais absorvido por demandas como redator, programador e locutor.

Já influenciado por três admirações - Dick Farney, Lúcio Alves e Dorival Caymmi (cuja maneira de compor inicialmente decalcou) -, veio para a Velhacap, onde, logo após o referido ingresso no Cacique do Ar (PRG-3), contou com o agasalho profissional da noite, por cujas boates, quase todas, passou, numa trilha de aplausos iniciada, em Copacabana, no Scotch Bar - emprego arranjado pelo amigo Gilvan Chaves, que cantava no Cangaceiro, em frente, onde Tito depois cantaria -, e seguida, em particular, pelo Jirau, no qual, substituindo Helena de Lima, conheceu o pianista Ribamar, parceiro de Dolores Duran e um grande amigo com o qual Tito trabalharia madrugadas adentro em muitos shows.

Um doce período para o não raro amargo samba-canção e para esse pilar do gênero, com intenso reflexo midiático - no caso do "cool" e afinado Tito, bem embalado como presente à fruição do ouvinte, com uma harmonia diferente da comum, então moderna e antecipadora, a seu modo, da bossa. Aliás, no balanço zona-sul dela, ele não deixou de caminhar, com o passo firme e bem dado de sempre.