Homenagens

Sueli Costa e as fantasias do navegar

Por Gerdal José de Paula - 15/08/2013

Provando uma feijoada, em 1971, em meio a outros artistas, na casa do compositor Gutemberg Guarabyra - já vitorioso com a sua Margarida no FIC de 1967 -, Sueli Costa decidiu morar no Rio de Janeiro para viver da música. Uma decisão tomada não pelo sabor do acepipe, que devia ser bom, mas pelo forte estímulo que recebeu do anfitrião baiano para que ela aqui domiciliasse o seu talento.Vinda de uma família de Costas "quentes" no ramo - a mãe professora de piano e canto coral e os irmãos, Lisieux, Telma, Afrânio e Délcio, dedicados ao canto ou a algum instrumento -, essa tijucana, que, ainda um bebê, foi para Juiz de Fora, seria destaque, na cidade, por sua canção delicada e anímica, bem situada com um quarto lugar em festival de MPB lá realizado em 1968. A mudança de ares sugerida por Guarabyra foi, natural e jobinianamente, para Sueli - que já largara, no último ano de faculdade, a formação em Direito -, a "consequência inevitável" da expansão profissional da sua vocação e da vida de artista que, na terra de Itamar Franco, mineiramente - também pela discrição de Sueli -, se ensaiava.
Já de vez no Rio, a louça fina do seu repertório logo encontraria intérpretes afamados, como Elis Regina, em 1972, lançando "Vinte Anos Blue". Curiosamente, por causa do jeito reservado de Sueli, também professora de música da rede pública de ensino, houve quem, ante a sua sequência de sucessos, pensasse que ela não existia de fato, talvez um pseudônimo, pois muito pouco aparecia na mídia em carne e osso. Só para um show histórico, com direção de Fauzi Arap - "Cena Muda", com Maria Bethania, em 1974 -, ela contribuiu com nove canções no roteiro (também no elepê gravado ao vivo) e, devido a outro estímulo forte, agora da mana de Caetano, Sueli, no ano seguinte, partiria para o seu primeiro elepê solo. Apesar de reduzidos em número, outros viriam, marcantes, confirmando a grandeza de uma obra tecida ora pelo próprio fio, ora com o alinhavo poético de parceiros de peso, como Cacaso, Tite de Lemos, Abel Silva, Paulo César Pinheiro, Paulo César Feital, Vítor Martins e José Carlos Capinam, este nos versos de "Mar de Espanha", supradestacados.