Homenagens

Roberto Martins, 102 anos

Por Jorge Roberto Martins - 01/02/2012

Um grande amigo. Faz uma falta danada na relação familiar. No último dia 29 deste janeiro atípico, teria feito 102 anos. Acho melhor fez 102 anos. Um menino. Sorriso pleno, humor do bom à flor da pele. Se hoje, acima das nuvens, troca “mãos de prosa” com seus amigos e parceiros – Ataulfo Alves, Mários (Lago e Rossi), Wilson Batista, Galhardo, Silvio Caldas, Alcebíades Barcelos (Bide), Orestes Barbosa, Radamés Gnattali, Jorge Faraj, Eratóstenes Frazão, Antonio Nássara, Claudionor Cruz, Jararaca, Valfrido Silva, Antonio Almeida, Benedito Lacerda, tanta gente que faz bem ao espírito, eles espíritos elevadíssimos – na sua reta final da Terra costumava ir, semanalmente, ao trabalho da minha mulher Leila para confidências que só os da idade dele compreendem. Tinha lá seus setenta e poucos. Sogro e nora afinadíssimos. Até o fim. Yole e Beth, minhas irmãs, também compreendiam e se orgulhavam. Como percebem, estou à vontade para me esbaldar no tom pessoal, nas coisas domésticas com as quais convivi, testemunhei, me encantei. Pois quando falo sobre os amigos aí de cima, estão todos no plano absolutamente pessoal. E esta RMB, que tanto honra siglas e significados, é espaço para sempre inaugural desta liberdade.

Quanto à música, não o imagino no mesmo patamar dos anos 40/50. Sabemos todos que a relação música-mídia-público mudou, inevitalmente, de tom, de formato. Quiálteras da vida. A moderna tecnologia escreve sua própria partitura e a executa do jeito que bem entende. Em frente. Naquele tempo, por isso mesmo penso sobre sua importância, conseguiu prestígio e respeito por sua produção e conduta. Foxes, valsas, sambas, batucadas, marchinhas - compassos/ritmicas diversos, sucessos: Favela, Meu consolo é você. Beija-me, Cadê Zazá, Pedreiro Waldemar, Cordão dos puxa-sacos, Marcha dos gafanhotos, Teu riso tem, Cai-cai, Renúncia, Menos eu, Bodas de prata. Está de bom tamanho. Continua prestigiado e repeitado, sentimentos que hoje juntam-se ao desconhecimento e/ou esquecimento. E eu compreendo.

Vez por outra, algumas de suas músicas são regravadas. Já cuidaram para que sua obra não fosse completamennte esquecida, ou ficasse restrita ao indispensável círculo dos pesquisadores, jornalistas e músicos que, também vez por outra, frequentam esta RMB, intérpretes de grandeza artística e inquestionavel apuro técnico - Célia, Maria Bethania, Zelia Duncan, Elba Ramalho, Zeca Pagodinho, Tim Maia, Moacyr Luz e Cristina Buarque. Mais recentemente, as meninas Clarice Magalhães e Tania Malheiros, vozes de encantamento. Todos, indistintamente, sucedendo e honrando os originais Orlando Silva, Francisco Alves, Aracis (de Almeida e Costa), Emilinha Borba, Ciro Monteiro, Gilberto Alves, Odete Amaral, Carmélia Alves, Nelson Gonçalves, Dircinha Batista, Blecaute, Albertinho Fortuna, Deo, Anjos do Inferno, Violeta Cavalcanti, Castro Barbosa, Luis Bandeira, Bob Nelson, Roberto Paiva, Carmen e Aurora Miranda, Joel e Gaúcho, Jorge Goulart...

Bem, acho que ele, acima de tudo, está no tempo sempre. Por isso mesmo, ele chama-se Roberto Martins, um compositor, um amigo, um pai. A ordem fica à vontade do leitor.