Revista Música Brasileira

Ele estava numa festa quando uma adolescente, sabendo que ele fazia música, o abordou e pediu que fizesse uma música para ela. Respondeu que música não se faz por encomenda, mas perguntou o nome da menina. Maria Madalena de Assunção Pereira foi a resposta. Ele percebeu uma sonoridade no seu nome e, ali mesmo fez a música e mostrou-lhe, deixando-a muito feliz. Nascia assim “Botões de Laranjeira” também conhecida como” Maria Madalena dos Anzóis Pereira”, sucesso na voz de Ciro Monteiro. Na gravação, Assunção foi substituída por Anzóis, pois a censura não permitia o uso de nome próprio em música. Esta história foi protagonizada pelo grande compositor Pedro Caetano.
     Pedro Valde Caetano nasceu em 01 de fevereiro de 1911, em Bananal, SP, mas com 3 anos já estava com a família em Maricá e depois no Rio de Janeiro. Na vida adulta, trabalhou como comerciante de calçados, chegando a ter algumas lojas de uma rede chamada Casa Pedro. Aos 22 anos, iniciou a carreira de compositor, compondo sua primeira música, “Foi Uma Pedra Que Rolou”, lançado, em 1934, por Silvio Caldas, mas que só foi gravado em 1940, pela dupla Joel e Gaúcho, na Columbia. Em 1935, teve sua primeira música gravada, o samba-canção “O Tocador de Violão, parceria com Claudionor Cruz e lançado por Augusto Calheiros, pela Odeon”. A partir daí, teve suas músicas gravadas e regravadas por grandes intérpretes como Francisco Alves, Silvio Caldas, Joel e Gaucho, Quatro Ases e Um Coringa, Ciro Monteiro, Araci de Almeida, Orlando Silva, Elis Regina, Miltinho, Cristina Buarque, Paulinho da Viola, Roberto Silva, entre outros.
     Teve mais de 200 músicas gravadas, de gêneros variados, e conseguiu grandes sucessos como “Sandália de Prata”, parceria com Alcyr Pires Vermelho,” Eu Brinco”, parceria com Claudionor Cruz, seu parceiro mais constante,” Onde É Que Estão os Tamborins”,” O Que Se Leva Desta Vida”, É Com Esse Que Eu Vou”,” A Felicidade Perdeu Seu Endereço”, parceria com Claudionor Cruz,” Nova Ilusão”, pareceria com Claudionor Cruz” e” O Samba Agora Vai” e a já citada “Flor de Laranjeira”. Pedro Caetano era apaixonado pelo Espírito Santo e compôs várias músicas homenageando cidades deste estado. O destaque fica por conta de uma linda valsa chamada “Guarapari”. Este repertório deu origem a um LP, gravado por Antonio João, Rose Valentim e Nuno Roland e lançado em 1972, com apoio do Governo do Estado do Espírito Santo.
     Ao longo de sua carreira, Pedro Caetano teve pouca atuação como intérprete, tendo gravado um único LP, em 1975, pela RCA VICTOR. Mas como autor esteve sempre presente no nosso cancioneiro e sua obra foi gravada com bastante frequência. Algumas de suas músicas tiveram mais de uma dezena de gravações. Recebeu algumas homenagens, em vida, como o título de Cidadão da Guanabara, em 1974, após completar 40 anos de carreira. Em 1984, foi homenageado com o espetáculo “É Com Esse Que Eu Vou”, montado com o seu repertório e apresentado na Funarte, com direção de Ricardo Cravo Albin. Neste mesmo ano, o compositor lançou o livro “Meio Século de Música Popular Brasileira-O que fiz, o que vi, lançado pela editora Vida Doméstica, onde ele conta várias passagens de sua vida artística”.
     Pedro Caetano faleceu, no Rio de Janeiro, em 27 de julho de 1992. Deixou uma vasta obra musical e seus sucessos ainda são lembrados e cantados pelos intérpretes contemporâneos. Foi um artista de enorme importância para a música brasileira. Sua obra traduzia a sensibilidade que tinha ao observar a vida ao seu redor. O pesquisador J.L. Ferrete, seu amigo, o definiu assim: “Como figura humana ele é igual a seus versos, muito semelhante às suas músicas, espontâneo, sempre jovem, nada tem de elitista ou pedante, é povo de verdade”.