Homenagens

Relembrando Chiquinha Gonzaga

Por Alberto Buaiz Leite - 28/10/2017

A história da Música Popular Brasileira não pode ser contada sem que se faça referência a uma artista extraordinária nascida no Rio de Janeiro, em 17 de outubro de 1847. Francisca Edwiges Neves Gonzaga era seu nome, mas ficou conhecida como Chiquinha Gonzaga. Sua mãe era mulher humilde, filha de escravos, mas o pai era influente militar do Exército que a reconheceu como filha, dando-lhe uma educação que a torna-se uma dama da sociedade. Casou-se aos 16 anos, por determinação do pai, com um empresário e oficial da Marinha Mercante, oito anos mais velho do que ela.


     A esta altura, Chiquinha Gonzaga já era uma mulher dedicada à música, tendo iniciado os estudos de piano ainda criança. Seu marido, no entanto, não gostava de música e não se conformava com o fato de a esposa continuar tocando seu piano. Um dia ele impôs à mulher uma escolha: “ele ou a música”. Ela não hesitou e disse: “Senhor meu marido, eu não entendo a vida sem harmonia”. Terminava, assim, seu casamento. Passou a viver com dificuldades financeiras, mas era uma mulher determinada e para sobreviver passou a dar aulas, tocou em bailes e trabalhou em lojas de música, demonstrando partituras ao piano. Em 1876 conheceu o flautista Joaquim Calado e foi convidada a integrar seu grupo “Choro Carioca”, como pianista.


     Em 1877, Chiquinha fez sua estreia como compositora com a polca “Atraente” que alcançou grande sucesso. No Teatro, estreou em 1885, musicando a opereta “A Corte na Roça” de Palhares Ribeiro, com partitura integral da artista. A partir daí, sua carreira tomou impulso, sendo requisitada por todos os empresários e autores da época. Outro momento marcante de sua trajetória artística foi o lançamento da composição “O Abre Alas”, em 1889. Foi a primeira marcha carnavalesca, composta para o “Cordão Carnavalesco Rosa de Ouro”, no Andarai, onde a compositora morava. Outro êxito de sua carreira foi à encenação, em 1912, da peça de costumes “Forrobodó” de Carlos Bittencourt e Luis Peixoto. Procurada pelos autores, decidiu musicá-la e ainda conseguiu uma companhia para encená-la. O sucesso foi estrondoso.


     Chiquinha Gonzaga faleceu no Rio de Janeiro, aos 87 anos, em 28 de fevereiro de 1935. Foi uma mulher surpreendente. Impulsionou nossa música e defendeu os artistas, sendo uma das fundadoras da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais(SBAT), em 1917, para que os autores pudessem receber corretamente seus direitos autorais. Nossa maestrina foi também uma militante política defendendo abertamente a abolição da escravidão e a proclamação da República. Foi uma pessoa que teve paixão pela vida, por seus ideais e pelo seu país e seu povo.


Nota - Será publicada, até o final deste ano, pela Novas Edições Acadêmicas, a dissertação de mestrado da professora e pesquisadora Solange Pereira de Abreu denominada Chiquinha Gonzaga e o Teatro Musicado.