Homenagens

Pery Ribeiro: bossaudade de um grande cantor

Por Gerdal José de Paula - 28/02/2012

Onda que ia, onda que vinha na nossa música popular, e Pery Ribeiro, como intérprete, atravessava décadas fiel ao seu dom natural de mostrar bonito tudo que se fazia canção, no embalo do ritmo e da divisão. Da coisa mais linda que a bossa nova viu passar – e pôde cantar –, uma moça da praia de doce e internacional balanço, foi a primeira voz no disco, como também seria, entre outras joias do "violão gago", de "Rio", "Ah! Se Eu Pudesse" e do lado B do histórico 78 rotações com "Garota de Ipanema", a memorável "Vagamente", esta pouco depois associada em definitivo ao trinado diferente – rouco e sussurrado – de Wanda Sá. Se Pery foi todo bossa, em 1963, no seu segundo elepê (e muito mais bossa, dois anos depois, na sedutora companhia de Leny Andrade e do Bossa Três em concorridas temporadas na boate Porão 73 e, pertinho dela, no Teatro Princesa Isabel, em Copacabana), também traria, ao longo da carreira, para o seu mundo de canções românticas, sempre com bom gosto, o verso vigoroso de um baladista chegado ao samba (artista que, nesse terreiro, teceu belas loas à sua amada Santa Teresa), o uruguaio verde-amarelo Taiguara (com a composição "Coisas"), e o estro abolerado de um português criado em subúrbio do Rio, Adelino Moreira, a ambos dedicando – um pra cada um – dois CDs. Escudeiro da bossa e sob a influência do jazz, mas também cantando outras vertentes da nossa rica motivação musical, Pery viajou por vários países, neles conquistando admiradores cativos e arrancando aplausos de pé, como na longínqua Lituânia; apresentou-se em cultuados endereços do jazz, como o Blue Note, em Nova York, e, caminho do mar, animou rotas turísticas em navios de luxo, como o "Splendour of the Seas". Inteligente, franco, risonho, sensível, bem informado e de pensamento claro e respostas bem articuladas em entrevistas, assim também se revelava o Pery, maiúsculo no palco, no exercício do seu ofício, especialmente na levada da bossa. E, além do mais, ele era carioca.


Pós-escrito:

a) reproduzi, acima, apenas com a tristeza da mudança de algumas formas verbais para o pretérito imperfeito (apesar de o bom artista ser sempre indicativo do presente na nossa memória), um texto que escrevi há quase um ano para ajudar a divulgar um show que Pery Ribeiro fez, no Leblon, por ocasião de festival de bossa nova que contou, na produção, com o empenho da amiga Amanda Bravo. Com os meus sentimentos, tais linhas ora se voltam, como uma singela homenagem, à Ana Duarte e, postumamente, ao grande cantor;

b) do jornalista Paulo Marinho, recebo a informação de que Pery Ribeiro será também homenageado no show que a cantora Vanessa Oliveira e o conjunto Bossa & Outras Bossas farão, nesta terça, 28 de fevereiro, a partir das 20h, no Cariocando (Rua Silveira Martins, 139 - Catete - tel.: 2557-3646), com direção de Ricardo Cravo Albin;

c) nos "links" seguintes, a) Pery canta "Samba de Orfeu", de Luiz Bonfá e Antonio Maria; 2) "Giramundo", de 1965, feita por Luiz Carlos Sá, então um constante participante de festivais de MPB e, mais recentemente, conhecido pela dupla de sucesso com Gutemberg Guarabyra; 3) da lavra de Pery com Geraldo Cunha, "Bossa na Praia", na voz de Sylvia Telles; 4) Pery canta o bolero "Laura", de Antônio Carlos e Jocafi.