Homenagens

Paulo da Portela, a dignidade no samba

Por Luís Pimentel - 20/06/2011

O homem que deu cara, identidade, roupa nova e dignidade ao samba teria feito 110 anos neste 18 de junho. Morreu muito jovem, com 48 anos, no auge da criação, deixando uma quantidade grande de sambistas sem as suas orientações de como compor, viver, organizar um bloco ou uma escola, mas gravou definitivamente o seu nome na história da Portela, do samba, do jongo, do caxambu, da música brasileira e dos movimentos sociais. Enquanto esteve por aqui, Candeia (Antonio Candeia Filho, 1935-1978) não nos deixou mentir: a força, o carisma e a liderança inspiradora do “mestre” Paulo da Portela nortearam seus discursos e os objetivos políticos que vieram a desaguar mais tarde na criação da revolucionária Escola de Samba Quilombo.

Aos 10 anos de idade, Paulo Benjamim de Oliveira já morava no subúrbio de Oswaldo Cruz, ocupando uma casa de vila na Estrada da Portela. Dizem que o “da Portela” vem daí. Outros acham que só surgiu mais tarde, quando o sambista começou a mostrar seus dotes na azul e branco da grande águia. Logo fundou o primeiro bloco carnavalesco (de marcha-rancho) do bairro, que tinha o nome (dado por ele, claro), de Ouro Sobre Azul. Registre-se que os nomes dessas pioneiras agremiações eram todos lindos e poéticos: Ameno Resedá, Flor do Sereno, Flor do Abacate, e por aí vai.

Paulo viveu uma longa história de amor com sua escola querida. Do primeiro desfile em 1930, quando ela ainda se chamava Quem nos Faz é o Capricho (depois foi Vai Como Pode e, só em 1935, batizada de Portela) até 1941, quando o romance se desfez (talvez por ciúmes), compôs grandes sambas-enredo e conquistou o coração de portelenses de todos os bairros. Ao deixar a escola, depois de se desentender com a diretoria (é sempre assim), ingressou imediatamente numa pequena agremiação recém-formada em Bento Ribeiro, chamada Lira do Amor. Não sem antes registrar seu ressentimento em um samba cheio de dor e poesia: “O meu nome já caiu no esquecimento/O meu nome não interessa a mais ninguém/...Chora, Portela/Minha Portela querida/Eu que te fundei/Serás minha toda a vida”.

Sem jamais se afastar do carnaval, Paulo da Portela imperou como sinônimo de talento e inspiração em todas as escolas do Rio de Janeiro. Só veio a fazer forfait na folia em 1949, quando, um mês antes e em pleno esquenta dos tamborins, foi derrubado por um infarto, no dia 31 de janeiro.

Dizem que “Madureira chorou”, e muito.