Homenagens

Panorama do choro paulistano contemporâneo

Por Daniel Brazil - 31/03/2011

O projeto original da jornalista e pandeirista Roberta Valente e do percussionista Yves Finzetto ganha peso e invade palcos. Depois de receber o apoio da Secretaria de Cultura do Estado, vira disco e show, e chega levantando poeira. O show, apresentado nos dias 24 e 25 de março no Sesc Pompéia, em São Paulo, foi um marco histórico, marcado pelas participações especiais dos compositores.

O Panorama reúne obras inéditas de autores conhecidos do meio musical paulistano. Feras consagradas como Isaías do Bandolim e seu irmão Israel, Proveta, Alessandro Pennezzi, Zé Barbeiro, Laércio de Freitas, Luizinho 7 Cordas, Toninho Ferragutti, Danilo Brito, Edson José Alves, Ruy Weber, Milton Mori, João Poleto, Edmilson Capelupi, Arnaldinho Silva, Thiago França, e até estreantes no gênero, como Everson Pessoa e Maurilio de Oliveira, do Quinteto Branco e Preto.

Repararam na mistura? Veteranos curtidos em décadas de rodas de choro se mesclam a gente que surgiu na última década, em plena renascença do choro. Mas ouvindo faixa a faixa, difícil saber quem é mais jovem, mais inovador, mais ousado. Os jovens reverenciam os mestres, os mestres mostram porque o choro faz com que permaneçam jovens. Tem garotão que daria seis meses de vida pra compor um choro tão estimulante como o de Zé Barbeiro, Não Me Siga Que Eu Não Sou Novela. Ou a mescla de 3/4 com 4/4 que Israel Bueno de Almeida inventa em Choro Manco.

O CD reúne 16 faixas, tocadas por trinta músicos. As primorosas interpretações vão pouco a pouco revelando sotaques, maneiras, temperos distintos. Difícil destacar alguma faixa entre tantas maravilhas! O sexteto Panorama, formado especialmente para apresentar o repertório ao público, conta com Henrique Araujo (bandolim, cavaquinho), Gian Correa (violão 7 cordas), Alexandre Ribeiro (clarinete) e João Poleto (flauta e saxes), além dos autores do projeto.

Este é o choro paulistano contemporâneo. Invenção, multiplicidade de formas, originalidade nos arranjos, experiências e misturas com outros gêneros, sem perder a essência da tradição e o tempero indispensável do improviso. Que este projeto se ramifique, gere frutos e multiplique por aí o talento de muitos instrumentistas, por todo o Brasil. E também na própria cidade de São Paulo, ainda muito abaixo do Rio de Janeiro na oferta de bares, palcos e calçadas onde se pratica o choro. Crescei e multiplicai-vos, jovens chorões, mirando este exemplo de sabedoria musical!