Homenagens

João Roberto Kelly: um artífice do samba de balanço

Por Gerdal J. Paula - 26/08/2014

 Para a nova geração, apenas um expoente do carnaval - ao qual deu bela contribuição em marchas-rancho, como "Rancho da Praça Onze", Rancho do Lalá", "Rancho do Rio" e "Rancho do Bonde", além de, é claro - pelo que ela já conhece bem -, marchinhas de enorme sucesso, como "Cabeleira do Zezé", Mulata Bossa-Nova" e "Colombina Ieieiê". No entanto, antes que toda essa produção, na segunda metade dos anos 60, viesse a lume para a folia e a alegria dos brincantes, João Roberto Kelly (fotos abaixo), já um autor de trilhas para o teatro (debutando como tal, em fins dos anos 50, no Teatrinho Jardel, em Copacabana, pelas mãos de Geisa Bóscoli) e, pouco depois, para a tevê ("Time Square", "My Fair Show" e "Praça Onze"), notabilizou-se como um cultor do samba de balanço (como também o faziam - e muito bem - Ed Lincoln, Luiz Bandeira, Orlandivo e Jadir de Castro, entre outros).

Bem-humorado, satírico e estimulado, na ribalta, pela companhia de Leon Eliachar e Milllor Fernandes - cujas peças " Sputinik no Morro" e "Pif-Tag-Zig-Pong ", respectivamente, musicou -, Kelly, em 1961 e 1962, em seus primeiros e raríssimos elepês, explorou esse filão sincopado com verve bem carioca e feitio noelesco nas letras - uma influência observada por críticos na época. Um retratista social, carioca de fato (nascido na Gamboa e criado na Lagoa), de olho na cena citadina e nos costumes, embora, romântico e boêmio, o balanço do seu piano também socorresse o coração avariado - como em "Esmola", em 1962, por Elizeth Cardoso, e "Boato", um ano antes, estourado em todo o país na voz de Elza Soares. Um Kelly que a chamada grande mídia esquece ou ignora - como outros da sua geração ou anteriores a esta-, mas merecedor de destaque. Além disso, por tudo que esse repertório evoca de um Rio-mar de sonho e curiosidade, pautado por outra cadência cultural.