Homenagens

Heitor dos Prazeres

Por Luís Pimentel - 28/09/2007

Ele é filho do século 19 e foi um dos grandes do século 20. Como quem faz bem feito sempre fica, o compositor e artista plástico Heitor dos Prazeres, que nasceu no dia 23 de setembro de 1898, ainda hoje é lembrado. Fez parte do privilegiado grupo de criadores que acompanhou o samba despontando nas rodas boêmias na casa da Tia Ciata, na Praça Onze. Ali viu ganhar forma o primeiro samba de que se tem registro, Pelo telefone ( Donga e M. de Almeida), e ganhou o carinho e o respeito dos companheiros de folguedos musicais – os batutas João da Baiana, Sinhô, Carlos Cachaça e Pixinguinha entre eles. Nasceu em uma família pobre, que morava na Praça Onze. Seu pai, Eduardo Alexandre dos Prazeres, era marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional. Na infância foi engraxate, ajudante de marceneiro e lustrador de móveis.

Heitor, que morreu em 1966, nos anos 1920 já era conhecido e respeitado no meio como Mano Heitor do Estácio, fazendo sambas, organizando blocos e fundando escolas de samba com Ismael Silva, Alcebíades Barcelos (Bide), João da Gente, Mané Bambambam e mestre Marçal. É dessa época o surgimento de agremiações como as escolas Deixa falar, De mim ninguém se lembra, Vizinha faladeira, Prazer da moreninha e Sai como pode. Começa nesse momento a carreira de compositor, que rendeu sambas como Deixaste meu lar, Deixe a malandragem se és capaz (que deu início a uma famosa polêmica musical com Sinhô, a primeira na MPB, antes, portanto, do bate-boca cantante entre Noel Rosa e Wilson Batista), Olha ele, Mulher de malandro, Canção do jornaleiro e, entre outros, o popularíssimo Pierrô apaixonado, cuja história do nascimento e da parceria com Noel Rosa tem um detalhe curioso:

Heitor fizera o samba inteiro e mostrara para Noel Rosa. O poeta da Vila achou que estava tudo certo, menos uma estrofe que considerou muito “para baixo”, motivada, seguramente, pelo estado de depressão em que ele vivia por ter perdido a mulher por aqueles dias: “Depois de tanta desgraça/Ele pegou na taça/E começou a rir”. Noel reescreveu assim: “Levando este grande chute/Foi tomar vermute/Com amendoim”.

Ninguém pode negar: ficou bem melhor.