Homenagens

Guilherme de Brito: a elegância em pessoa

Por Luís Pimentel - 02/01/2012

Entrevistei Guilherme de Brito nos anos 1990, para a revista Música Brasileira. Dei o seguinte título à matéria: “O inglês de Bonsucesso” (bairro onde o compositor e pintor vivia). Muitos anos depois, o encontrei no Bip Bip, em Copacabana, e fizemos um brinde juntamente com o seu amigo Alfredinho e a companheira da vida inteira, Dona Nena (Artemísia de Brito). Seu comentário sobre o assunto do passado:

– Jamais pensei em ser inglês, longe de mim. Mas a referência a Bonsucesso me deixou muito orgulhoso.

Era a elegância em pessoa. Trajando linho branco e barba da mesma cor, religiosamente aparada, Guilherme de Brito era a elegância em pessoa. Neto de alemão, ele nasceu em Vila Isabel, no Rio, no dia 3 de janeiro de 1921. O pai foi funcionário da Central do Brasil e tocava violão. A mãe tocava piano e sua irmã também tocava violão. Ainda na infância ganhou um cavaquinho, que trocou depois por um violão, e começou a fazer músicas. Mais tarde especializou-se nas letras, tornando-se um dos mais geniais da nossa música; Nelson Cavaquinho, seu eterno parceiro, que o diga.

Perdeu o pai ainda jovem e foi trabalhar como office-boy na Casa Édson, a grande lançadora de talentos musicais de sua juventude, nos anos 1930/40. Ali conheceu todo mundo, e teve certeza de que queria ser artista. A vocação só deslanchou para valer mais tarde, quando conheceu Nelson, com quem compôs preciosidades como “A flor e o espinho” e “Degraus da vida”, entre tantas outras canções.

A elegância de Guilherme foi mostrada a vida inteira, na sabedoria para lidar as glórias, entre as falsas e verdadeiras. Jamais lamentou o fato de os louros do sucesso recaíram mais na conta dos parceiros, ou se queixou do que quer que fosse. Só nos anos 1980 pôde gravar um disco só seu, por iniciativa do compositor Moacyr Luz, que o produziu, e também soube conviver modestamente com o seu lado de pintor. Em 1990 e 1992, expôs seus quadros no Japão, nas cidades de Tóquio e Osaca. Além desse país, teve quadros expostos na Áustria e nos Estados Unidos.

Guilherme nos deixou em 2006 (no dia 27 abril), com a mesma serenidade com que viveu. Foi um dos indivíduos mais discretos que conheci.