Homenagens

Dorina e da Vila, em dia e estado de graça

Por Luís Pimentel - 18/01/2014

Luiz Carlos da Vila (1949-2008) é um dos grandes criadores da música brasileira. Melodista de acordes inspiradíssimos – com subidas e descidas que lembram direitinho o seu jeito vertiginoso de compor e de cantar – e letras onde a poesia é guardiã de tamarineiras e tira sonhos do fogão. Dorina, cuja folha de serviços prestados à música brasileira já merece moldura, é uma cantora que se mostra mais segura, mais solta e mais envolvente a cada novo CD ou DVD que põe na praça.
Cantando feito “os passarinhos na manhã” do mestre que é uma de suas maiores admirações e inspirações no mundo do samba, a suburbana e suburbanista de sorriso e empolgação continentais nos apresenta agora o disco “Sambas de Luiz” (Rob Digital), mais um trabalho onde Dorina mostra o seu zelo e apreço pelo que de melhor é feito em nosso cancioneiro; determinação que ela leva para os seus shows, entrevistas, iniciativas ou programas de rádio que produz e apresenta.
Estão presentes as obras mais significativas do repertório de Luiz Carlos, a partir da combativa “Por um dia de graça”, composta para a escola de samba Quilombo, em 1980 (não emplacou na escola, mas ganhou as ruas, os palcos e o Brasil todo), passando por lindezas poéticas como “Doce refúgio”, “Meu canto” e “Duas saudades”. Participações nos instrumentos ou na produção de craques como Claudio Jorge, Alessandro Cardozo, Dudu Oliveira ou Charles da Costa ajudam Dorina a dar de maneira mais profissional possível o recado do poeta – que encarou a vida com o necessário equilíbrio entre o profissionalismo e a loucura, a dispersão e a inspiração.
“O samba que desde a origem é arte/Das coisas boas da vida é parte”, diz um dos versos mais ricos de Luiz Carlos da Vila. Das coisas boas da MPB, a cantora Dorina é parte, essência, engenho e arte.