Homenagens

Dona Maria Amélia, a mãe do Chico

Por Luís Pimentel - 28/01/2010

Ninguém faz 100 anos de vida impunemente. Ou seja, sem muita estrada, sem muita luta, sem dissabores. Creio que também não se consegue, impunemente, gerar frutos e conviver com luzes e alegrias chamadas de Chico Buarque, de Miúcha, de Cristina, de Pii e de Ana de Hollanda (os outros meninos podem se sentir também homenageados); somando-se, a tudo isto, inúmeros verões ao lado do paulistano que plantou as raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Hollanda, a quem cada brasileiro deve, pelo menos, uma folha. Ou uma flor.

Dona Maria Amélia, a doce Memélia para os seus íntimos, brinda o centenário neste janeiro de 2010 (dia 25), enchendo de orgulho os seus filhos, netos, bisnetos e amigos (conheço um, seu vizinho de Rua Almirante Gonçalves, que os olhos brilham quando fala nela, que a barba branca treme quando ela passa na calçada do Bip Bip e acena, plena de humanidade e de carinho).

Dizem que da janela do sétimo andar do edifício sóbrio em Copacabana, Rio de janeiro, em cima do nada sóbrio Alcazar, ela ainda contempla o tempo e sorri para o mar. Quem tem a felicidade de enxergá-la, mesmo de longe, vislumbra um pedaço do nosso país – talvez o melhor pedaço. Mesmo de longe, lá está o canto dos pássaros, o balé das nuvens, a inquietação política e social que abraça anônimos e presidentes da República, com a serenidade dos 100 anos, a doçura dos 50, o brilho no olhar dos 25. Ninguém é tanto para tantos impunemente.

Maria Amélia Cesário Alvim Buarque de Hollanda, carioca, mulher de verdade como sua homônima de Ataulfo e Mário Lago, traz no nome e no sobrenome a colcha de retalhos nordestina que aquece o Rio, a imagem que nos enche de orgulho por também mergulhar nessa bacia. Deus a conserve e a proteja.