Homenagens

Com Severino Araújo, onde sua batuta estiver

Por Gerdal José de Paula - 06/08/2012

Sinônimo de excelência na MPB – no passado, a bateria da Portela foi cognominada A Tabajara do Samba –, a famosa orquestra de Severino Araújo (fotos abaixo), pernambucano nascido em Limoeiro em 1917, foi reverenciada em obra lançada por Carlos Henrique Coraucci em 2009 . Criada em João Pessoa como Jazz Tabajara, em 1933, com o apoio fundamental de Oliver von Sohsten, descendente de holandeses, rico, industrial, que ainda lhe forneceu instrumentos, seria chamada de Orquestra Tabajara quatro anos depois, logo após o advento na cidade da Rádio Tabajara.

Convidado, a princípio, a fazer parte do naipe de sopros da orquestra, Severino Araújo, aos 21 anos, logo teria sob seu comando, após a morte do regente Olegário Luna Freire, uma formação em que já pontificavam músicos do quilate de K-Ximbinho, José Leocádio (trombonista autor do célebre "Paraquedista"), Geraldo Medeiros, Raimundo Napoleão e Porfírio Costa (autor de "Peguei a Reta"). Parece que foi "hontem" que tudo começou, mas, de lá pra cá, são numerosas as histórias que envolvem esses valorosos instrumentistas, alguns falecidos, que, em formações modificadas ao longo de décadas, foram atuantes em mais de 13.000 bailes, tiveram, entre seus "crooners, Jamelão e Elizeth Cardoso e, segundo opinião de Paulo Moura, "mudaram, com os arranjos agressivos de Severino Araújo, uma sonoridade arredondada predominante no panorama orquestral até o final dos anos 40". Admirador de Benny Goodman, Artie Shaw e Duke Ellington, Severino causou ótima impressão ao colega Tommy Dorsey, que, em 1951, aqui esteve com a sua orquestra, apresentando-se com a Tabajara, esta influenciada, desde o Nordeste, pelo som das "big bands" norte-americanas, porém mesclado com suingue próprio e ainda embalada por ritmos nativos, como o frevo, que ajudou a popularizar em todo o país.

O guitarrista Del Loro e os trombonistas Norato e Astor Silva, afora quatro irmãos de Severino Araújo - Jaime Araújo (sax alto), Manoel Araújo (trombone), Plínio Araújo (pistão e, depois, bateria) e José, o Zé Bodega (que vendeu o sax e parou de tocar após passar mal, achando que morreria, ao ouvir o público gritar o seu nome em show da Tabajara no Anhembi) são mais exemplos de grandes músicos que passaram por essa orquestra colecionadora de recordes, como o da mais antiga em atividade no Brasil, regida em quase todo o tempo por Severino Araújo, clarinetista e autor de quindins melodiosos, como "Um Chorinho em Aldeia", "Um Chorinho pra Você" e "Espinha de Bacalhau" (capa de LP abaixo). Todos "in the mood" para o "cheek-to-cheek" de casais em tantas domingueiras voadoras animadas pela Tabajara na Lapa dos anos 80 e em rodopios atuais e vindouros. Música, maestro! Ela sempre estará com você onde sua batuta estiver.

Pós-escrito: nos "links" seguintes, 1) a Orquestra Tabajara toca "Um Chorinho Modulante", de Severino Araújo; 2) cantado por Ney Matogrosso e Gal Costa e também composto por Severino, "Espinha de Bacalhau", choro que remonta a 1937, de difícil execução, ganhou letra do cearense Fausto Nilo em 1981; 3) "Um Chorinho em Aldeia", outro de Severino, executado pela Banda da Polícia Militar da Paraíba (de que Severino já fizera parte) sob a regência do major Edmundo Alves; 4) com foto antiga da Tabajara ilustrando o vídeo e tocado por ela, "Açude Velho", de Porfírio Costa, um trompetista de Campina Grande que atuou na orquestra nos anos 40; 5) "Chorinho de Gafieira", de Astor Silva, num 78 rotações da Tabajara girando no prato da vitrola; 6) trecho de documentário da TV Cultura (SP) sobre Severino Araújo e a Orquestra Tabajara, exibido há dois anos.