Homenagens

Coisa bonitinha entre as mais bonitinhas

Por Tarso de Melo - 27/06/2019

"Seu Gilberto. Não sei se é a forma como no jovem Gil, no corpo em que se encontram todos os timbres dos tempos, já apontava um sábio Gil: falando pouco como falam os sábios, falando muito como falam os sábios. Não sei se é a forma como no Gil velho salta sempre algo de muito jovem, um Gil menino sambando com as pernas de sete décadas enquanto um outro mesmo Gil canta o avançado da vida no corpo. Um Gil tateando mais e mais de perto as marcas do tempo que um outro mesmo Gil cantou como ninguém. O cabelo grisalho acenando sob os cachos de outras épocas. Ou as tranças se insinuando ainda no corte curto de hoje. O Gil do riso colossal, o Gil do sorriso-aconchego. O Gil que inventa mil coisas, o Gil que reaviva tudo que ama. A dança larga correndo por dentro dos gestos calculados de velho. Ou a conta precisa orientando o voo vasto e louco dos quadris. O violão soando sob as cordas da guitarra. Ou a corda elétrica que o dedo encontra no violão mais sereno. Se é o grito que faz arreganhar os olhos. Ou a voz que só se ouve completamente de olhos fechados. O Gil da Jamaica ou o de São João. O Gil de Oslo ou o da favela. O da louvação ou o da parabólica. O Gil dos cânticos ou o Gil quântico. O Gil do Expresso 2222, o da jangada, o do trem para as estrelas. O Gil que faz chorar, o Gil que faz rir. O Gil que ensina, o Gil que aprende. O Gil solar, o Gil de mil luares. Mil Gils ou mil Gis? Todos nossos, todos dele nossos ouvidos: é o que importa. Gil, qual o Rio da canção, continua lindo. Vida longa, Gilberto Passos Gil Moreira. Coisa bonitinha entre as mais bonitinhas. "