Homenagens

Billy Blanco, um olho nas cordas e outro nas ruas

Por Luís Pimentel - 08/07/2013

Diz um samba memorável do grande mestre que a música brasileira perdeu em 2011, no dia 8 de julho: "A vaidade é assim: põe o homem no alto e retira a escada/Fica por perto, esperando sentada/Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão". Com sua batida de violão própria, melodia delicada, e letras que flertavam com a crônica de costumes, Billy Blanco (William Blanco de Abrunhosa Trindade, Belém do Pará, 1924) foi considerado por estudiosos o precursor da bossa nova (claro que não foi sozinho; nessa linha de raciocínio, contemporâneos seus como, sobretudo, o Geraldo Pereira de “Bolinha de papel”, deram contribuições também marcantes).


Billy Blanco compôs e marcou presença na MPB por seis décadas. Desde a segunda metade do século passado que ele vem municiando interpretes com sambas deliciosos, criados sozinhos ou em parceria com pesos pesados como Baden Powell e Tom Jobim. Também gravou discos cantando, e o último foi a exatos dez anos.  Sua escrita era cheia de personagens comuns do imaginário carioca, como o bon vivant que era o típico “falso malandro de Copacabana”, que “o mais que consegue é um vintão por semana/que a mana do peito jamais lhe negou” (“Mocinho bonito”, gravação histórica de Doris Monteiro); o chamado à atenção pelo respeito nos “Estatutos da gafieira”, que o caricaturista do samba Jorge Veiga eternizou; ou o boçalão que “não fala com pobre, não dá mão a preto nem carrega embrulho”, de “A banca do distinto”, um obra prima.


Nesse caminho livre de compor com um olho nas cordas e outro nas ruas, retratando a paisagem urbana e os personagens do dia a dia – estilo no qual Noel Rosa foi mestre soberando – Billy Blanco nadou de braçadas, com impressionante desenvoltura. Arquiteto de formação, com pós-graduação ampliada na engenharia da vida, Billy gravou, além de tantos sucessos, o seu nome na galeira dos grandes do nosso cancioneiro.