Revista Música Brasileira

A cantora, pesquisadora e sambista de fé Cristina Buarque continua de namoro firme com os grupos paulistas. Depois do bem sucedido encontro com o pessoal do Terreiro Grande, que resultou num disco ao vivo com todo o clima de autêntica roda de samba, ela agora junta os trapinhos com a charmosa Banda Glória, sucesso dos salões paulistanos com sua fina gafieira. O CD (Banda Glória convida Cristina Buarque, Scubidu Records, 2008) traz 14 faixas garimpadas do imenso repertório do mais popular de nossos gêneros, com suas variações. Tem samba-canção, samba de morro, samba carnavalesco, e muito samba bom que andava esquecido há décadas.

Cristina tem o dom de tirar a poeira de certas jóias musicais, fazendo com que tornem a brilhar. Sua voz, sabidamente pequena, cresce quando está cercada de bons músicos e arranjadores. Com a Banda Glória, atingiu o ápice. Os 15 talentosos músicos, capitaneados pelo violonista Fred Mazzuchelli, se esmeram em criar climas ora brejeiros, como na marcha Salve o Américo (sucesso carnavalesco de Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho, de 1946), ora dolentes, como na inédita Um Casal que Chora, de Cartola.

Passeando por sambas de Ataulfo Alves, Mario Lago e Erasmo Silva, Geraldo Pereira e Ciro de Souza, Candeia, Lupicínio, Pedro Caetano e Claudionor Cruz, Roberto Martins e Manoel Ferreira, o CD traz um repertório de delícias tiradas do fundo do inesgotável baú da música brasileira.

A faixa de abertura é Meu Romance, clássico de J. Cascata (“Embaixo daquela jaqueira, que fica lá no alto, majestosa...”), e dá o tom do disco. Sambas de primeira linha, que poderiam ser tão conhecidos quanto esse, e que pelos mistérios do mercado fonográfico e radiofônico (ou do gosto popular) acabaram sendo meio esquecidos.

Cristina Buarque e a Banda Glória recuperam estes belos sambas, num CD precioso.