Homenagens

Áurea Martins, a fé na música

Por Luís Pimentel - 16/05/2011

Ela está completando 70 anos de idade (nasceu em junho de 1941) e festejando a data em grande estilo, brindando o sucesso com um disco feito a caráter para as comemorações: o CD “Depontacabeça”, lançado no final do ano passado pela Biscoito Fino, inteiramente dedicado à obra de seu grande amigo e produtor Herminio Bello de Carvalho (com parceiros como Moacyr Luz, Dona Ivone Lara, Vital Lima, Vidal Assis, Fernando Temporão e até Pixinguinha).

No ano anterior, Áurea lançara outro trabalho lindo, pela mesma gravadora, chamado “Até sangrar”. Nele, a grande cantora, voz talhada e moldada na noite, cantava lindas e irresistíveis canções de amor, de fossa e de angústia. Levou o prêmio justo e merecido de melhor cantora de 2009, que naquele ano coroava uma carreira de mais ou menos meio século na batalha da MPB.

A carioquíssima Áurea Martins surgiu no cenário artístico do Rio de Janeiro em meados dos anos 1960, revelada no programa de TV A Grande Chance, de Flávio Cavalcanti, e também no Tribunal de Melodias, da dupla Mário Lago e Paulo Gracindo. Com muita luta, enfrentando certas má vontades e até preconceito, começou a construir sua carreira cantando em casas noturnas e onde tivesse a oportunidade de mostrar sua voz. Participou de festivais e dos Songbooks de Tom Jobim (“Se é por falta de adeus”) e de Chico Buarque (“Atrás da porta”), além de outros CDs, como o de Ivor Lancellotti (“Quando essa paixão me dominar”), ou “A lua e o Conhaque”, de Délcio Carvalho.

O primeiro CD próprio, muito tardio, só veio em 2004 (“A voz rouca da crooner”). Nele, Áurea Martins mostra a grande cantora que sempre fora, interpretando canções de compositores como Baden Powell, Johnny Alf, Milton Nascimento, Cartola e outros. Lançara um LP em 1972, “O amor em paz”, quando chamou a atenção da crítica para sua voz forte e a ótima escolha de repertório: ali já estavam perfilados Vinicius de Moraes, Dolores Duran, Chico Buarque e a dupla Edu Lobo/Torquato Neto, com a lindíssima “Pra dizer adeus”.

Áurea gravou pouco, mas cantou e canta muito. Sua fé na música é inabalável. Sua voz e simplicidade chegam a ser comoventes.