Homenagens

Ademilde Fonseca, rainha do choro desde os tempos do Benedito

Por Gerdal José de Paula - 02/04/2012

Em 1942, superando um "autopreconceito", como já afirmara em entrevista – o da ideia então predominante de à mulher casada caber apenas o tradicional papel de cuidar da casa e dos filhos –, a potiguar Ademilde Fonseca, com 21 anos, já vivendo no Rio com o marido, o músico Naldimar Gedeão Delfim, pôde aqui desabrochar profissionalmente para o canto popular, um dom que, em Natal, já era apreciado em família e entre seresteiros próximos.

Também naquele ano, em um amigo "meio malcriadão, mas de gargalhada gostosa", Benedicto Lacerda, ela teve um arrimo fundamental para chegar ao disco (a gravação, na Columbia, de "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu, música que aprendera, ainda em Natal, com um amigo de infância), pois, ao acompanhá-la com o seu regional numa festa, o famoso flautista percebeu estar diante de um patrimônio da MPB, que ele cognominou de a rainha do choro. De fato, causava estupefação toda aquela técnica, afinação, com relevo nos agudos, e clareza de dicção a serviço de um tipo de composição até então só tocado e de andamento costumeiramente ágil.

Outro brado retumbante do sucesso, também internacional, seria ouvido na carreira dela, oito anos depois, com a gravação de "Brasileirinho", de Waldir Azevedo, firmando-a no gênero, com o registro letrado de muitos outros choros famosos – como "Apanhei-te Cavaquinho" e "Odeon", de Ernesto Nazareth –, e no estrelato das nossas intérpretes, luzindo, ademais, por causa de número elevado de discos vendidos. Daí em diante, entre os muitos momentos marcantes por que passou, está a presença de Ademilde, no II Festival Internacional da Canção (FIC), em 1967, defendendo um maravilha composta por Pixinguinha, "Fala Baixinho", de versos assinados por Hermínio Bello de Carvalho.

Como no famoso choro-batucada do portelense Alvaiade e Zé Maria, também levado ao fonograma por Ademilde, o que vinha de bom ela traçava muito bem.