Especial

A volta do Kid e do Cavaquinho

Por Luís Pimentel - 31/08/2009

Quando o destino juntou, no comecinho da década de 70, um dos maiores melodistas e instrumentistas que Minas Gerais já exportou para o mundo e um dos mais inspirados poetas da MPB, os amantes da boa música brasileira foram presenteados, por mais de duas décadas, com o repertório espetacular que a parceria produziu.

Canções que serviam para a dor-de-corno, o romance, o porre, a algazarra, o desabafo político, unindo bêbados e equilibristas, o rancho e a goiabada, kids e cavaquinhos fizeram a fama e o prestígio de uma dupla de compositores do silêncio e do barulho: João Bosco e Aldir Blanc. Fizeram, também, a trilha sonora que guiou muita gente boa – gente que até hoje lamenta o fato de, num certo dia, ter ido cada um pro seu canto.

O poeta continuou poetando, ao lado de parceiros também admiráveis, como Guinga, Moacyr Luz, Cristóvão Bastos e outros; o grande melodista continuou musicando letras, agora de Abel Silva, de Capinam, de Wally Salomão, de Carlos Rennó, e do filho Francisco Bosco (bela revelação de poeta e de ensaísta), entre outros. E lançando discos. E fazendo muito sucesso.

O novo CD de Bosco, Não vou pro céu, mas já não vivo no chão (Universal) registra, ainda que não integral, a volta da inesquecível parceria, que mais parece tabela perfeita de craques, jogando por música, enquanto um lava o outro enxágua. Navalha, Mentiras de verdade, Plural singular e Sonho de caramujo, presentes neste álbum, são parcerias dignas dos grandes momentos da obra com a grife “Bosco e Blanc”.

Ressalto aqui as canções da dupla, apenas para festejar e dividir com os demais fãs a minha alegria por ver esses dois artistas trabalhando juntos novamente. Mas fique claro que o disco inteiro é uma delícia. As parcerias com Chico Bosco continuam ótimas (ó, só: “Eu taro a tanajura/Mas fico na poeira/A preta me esconjura/Sorrindo sorrateira”); a poesia de Carlos Rennó mantém o bailado sutil com os acordes de João; a dobradinha com o grande Nei Lopes, em Jimbo no jazz, é uma farra alegórica, um primor de jogo de palavras; e a regravação de Ingenuidade, de Serafim Adriano (samba com o qual a eterna Clementina deu um show à parte em LP dis abis 80) é um brinde de mãos beijadas.

Saúdo, daqui, o esperado reencontro de João Bosco e Aldir Blanc, deixando essa pérola pescada no CD: “Neguinho me vendo em Quixeramobim/E eu andando de elefante em Bombaim” (versos mais aldirblanqueanos, impossíveis. Né Não?).