Revista Música Brasileira

Na letra da canção Lembrança, Teresa Cristina dá conselhos para uma menina mais nova: “Cuidado com a sinceridade/já mataram a verdade/ e eu não li no jornal”. Não se trata de desencanto, mas de amadurecimento. Assumidamente em busca da maioridade artística, a cantora assina a autoria de nove das 23 canções que compõem o repertório do CD e DVD Melhor assim. Gravado no Espaço Tom Jobim em outubro do ano passado, o concerto conta com a participação de Seu Jorge e Marisa Monte, e traz ainda duetos registrados posteriormente, com Caetano Veloso, Lenine e Arlindo Cruz.

Consagrada como a maior das cantoras de samba da geração que desabrochou na Lapa a partir da década de 90, Teresa pretende, neste novo trabalho, se livrar de rótulos que possam a engessar.

– O rótulo serve para as pessoas saberem o que vão encontrar dentro. O bom é quando quem compra acha estranho e tem que ligar para o Procon – brinca a cantora. – Se é para ter rótulo, que eu seja um purê de batata que vem com pimenta, se não fica tudo muito previsível.

“Visão ampla do samba”

Brincadeiras à parte, Teresa reconhece que tanto a Lapa, quanto o samba foram e continuam sendo importantes a para a sua carreira. Fato que pode ser notado no repertório, dedicado, em grande parte, ao estilo. Porém, trazendo o que a cantora afirma ser “uma visão ampla e aberta do samba”. Em seu segundo DVD , Teresa mostra-se determinada a ampliar horizontes artísticos, buscando uma identidade sonora própria, sem se alienar de suas raízes. Sua vontade desde o início era que o show soasse ao mesmo tempo “diferente e parecido” com o que o público esperava dela.

O repertório, todo escolhido pela cantora, sob o olhar atento do experiente diretor musical Paulão 7 Cordas, foge com eficácia do óbvio. Logo na primeira canção, A voz de uma pessoa vitoriosa, Teresa evoca os pungentes versos de Wally Salomão para mostrar que o show significa para ela também a busca por uma superação artística: “Coração arrebenta/ no entanto a voz aguenta/ brilha no tempo a voz vitoriosa”. Um de seus objetivos quando decidiu gravar um novo DVD era registrar uma nova postura de se colocar no palco, mais solta e segura de si.

– No primeiro DVD (O mundo é meu lugar, de 2005) eu estava um pouco parada no palco, inibida. Não que eu não goste do trabalho, mas acho que eu estava me divertindo pouco – reflete Teresa. – De lá para cá, houve um crescimento na minha performance. Este novo show mostra uma alegria diferente.

A cantora já não conta com a participação de todos os integrantes do grupo Semente, que a acompanhava desde o início da carreira. Escritos pelo veterano Paulão 7 Cordas, os arranjos do show são sóbrios, elegantes, sem excessos, deixando todo o espaço para Teresa mostrar a que veio. Marisa Monte participa cantando e tocando ukulele – espécie de cavaquinho havaiano – no belo samba Beijo sem, de Adriana Calcanhotto. Outro destaque é a canção que dá nome ao DVD. Composta pelos bambas Claudio Jorge e Nei Lopes, Melhor assim apresenta um olhar sóbrio e otimista sobre o fim de um romance.

A cantora resgata ainda a pérola Maria Joana, de Sidney Miller, que ganha uma interpretação à altura da canção. Mas é nos versos de Cantando, de Paulinho da Viola, que Teresa traz à tona o tema que mais a mobiliza no momento, a busca pela serenidade e pelo amadurecimento. A inclusão de tantas músicas suas no repertório – com direito a uma parceria com Arlindo Cruz, e outra com Edu Krieger – parece ser um reflexo deste movimento em busca da maioridade musical:

– Cantando na noite, durante muito tempo, eu tinha vergonha de mostrar as minhas musicas. Agora, pela idade, eu tenho que mostrar o meu trabalho, depois eu mostro o dos outros. Fiz o show, em parte, por isso, para mostrar as músicas que tenho feito nesses anos.