Especial

Robertinho de Recife: quando a guitarra é um espetáculo

Por Victor Torvi - 28/02/2011

Robertinho de Recife já tocou com os pés, de costas, tocou blues, jazz, heavy metal, cresceu, amadureceu e virou produtor. Hoje está na lista dos nossos grandes músicos nacionais, e já foi considerado por muitos um dos melhores guitarristas do mundo.

É pouco? Uma das prováveis explicações para o artista ter dado tão certo pode ser a relação com a cultura rica de Pernambuco, em que o frevo, o maracatu, os violeiros e repentistas estão juntos da massa. Um desses artistas, que está sempre onde o povo está, Robertinho tem uma história curiosa: a guitarra surgiu em sua vida como uma terapia contra o choque de ter passado meses dentro de um hospital, em decorrência de um atropelamento, quando ele tinha onze anos de idade. Desde então, sua vida não foi mais a mesma.

– Como um garoto, naquela época eu curtia muito Os Beatles e os Rolling Stones, não tinha nenhum outro instrumento que me deixasse tão alucinado quanto o som da guitarra, as técnicas todas da guitarra aprendi com caras como Jimmy Hendrix, Van Halen, entre outros que trouxeram novas técnicas ao instrumento – diz ele.

A época a que se refere é a dos bailes em clubes, onde muitos e os músicos tocavam não apenas por dinheiro, mas também por amor.

– Eu formei um grupo com meus amigos, naquela época era uma brincadeira, para namorar também, eu tocava por um lanche. Toquei em dois grupos, Os Bambinos e Moderados – diz o guitarrista, que apareceu para o público fazendo malabarismos com o instrumento desde pequeno. Isso chamou a atenção de todos que o assistiam.

– Meu pai nos inscreveu num festival de música chamado Jovens de Pernambuco, cada semana era uma eliminatória, o público veio abaixo na primeira eliminatória, na segunda meu pai me disse para eu tocar com a guitarra nas costas, na final ele me disse para eu tocar com os pés, eu disse que não conseguia, mas com tanta persistência eu consegui e me apresentei assim nós vencemos, eu fiquei conhecido como um malabarista, no show sempre esperavam que eu fizesse algo, eu quebrava as cordas e só tocava com uma – relembra.

Robertinho de Recife jamais se fez de rogado na hora de trabalhar. Passou por vários gêneros musicais e fez sucesso em todos eles, desde músicas para o público infantil até o heavy metal.

– O sucesso do primeiro disco da Xuxa é uma música chamada Chocolate, quem tocava era eu e quem cantava era Emilinha, minha ex-mulher. Isso abriu a porteira para a galera, as pessoas começaram a enxergar que dava para ganhar dinheiro com música para o público infantil.

Estranharam o heavy metal? Ele explica quais são os laços:

– Eu me encaixo mais no gênero do metal de todos os que eu já toquei. A guitarra fica em primeiro plano, é diferente... É como se fosse o ronco do motor de um carro – exemplifica,certeiro. Mas sou eclético mesmo. Por exemplo:comecei a estudar a música sacra quando eu voltei dos Estados Unidos, com uma crise existencial grande, essa música foi uma relação com Deus, ele me falava muita coisa e foi quando eu entrei no seminário e tive algumas experiências espirituais, entrei fundo nos compositores de música sacra... Muita gente achava que eu tinha estudado música clássica, mas elas têm essa ligação por serem músicas orquestradas, tocava na Igreja São Francisco de Paula na Barra, até a pouco tempo atrás todos os domingos.

Devido a um tombo em que resultou na fratura de seu braço Robertinho vem sido submetido a tratamentos diários e intensivos de fisioterapia. Teve que diminuir o ritmo, mas nem sempre consegue:

– O telefone não para de tocar. Fui chamado para o Carnaval de Recife, para o festival de Blues em Garanhuns, também no Recife, e no Viradão Cultural Paulista...

O nome dele é trabalho.